Monday, September 29, 2003

O braço direito de Portas, ou a mão esquerda do Público

A subjectividade da comunicação social não me impressiona. A convicção numa ilusória objectividade pura e dura é que incomoda e preocupa, porque é falsa e engana.

A página 2 do Público de Domingo é a prova disso mesmo. Dois terços de página para exibir um Portas de braço estendido e mão direita esticada. A foto não é inocente, é manipuladora.

A imagem, que evoca o fascismo sem qualquer dúvida, não foi escolhida por acaso. Mas foi escolhida apesar de não corresponder a qualquer passagem do discurso do líder do PP. De resto, nos artigos que acompanham a imagem nunca se tenta fazer essa associação.

E então? Então, é simples. O Público tem uma opinião sobre Portas, e uma interpretação das suas palavras para oferecer ao leitor. Independentemente do que o próprio diga.

Não ser mero porta-voz é uma coisa. Fazer opinião é outra. Manipular é outra ainda. Por mim, se por baixao da foto o Público legendasse: "É assim que vemos o Dr. Portas, diga ele o que disser", estava tudo bem. Mas não, o Público recusa ser um jornal de esquerda, não admite que tem opinião formada sobre o líder do PP, finge que tudo isto é objectividade. Isso sim é grave, porque não é honesto.

Se é isto que aprendem, porque raio hão-de pagar?

No mesmo Fórum TSF, outra menina do ISCSP, que não é caloira, explicava que o aumento das propinas era muito injusto e tornava a vida difícil para os estudantes que vêm de outros países. Como "os Açores e a Madeira".

Com sorte a moça estuda Relações Internacionais.

É "indefensível", é.

No Fórum TSF - mas porque é que eu oiço aquilo? - uma menina do ISCSP garantia que o aumento das propinas não é "defensível".

De facto, como é que uma menina assim poderia achar legítimo haver propinas?

Tuesday, September 23, 2003

Hoje queria mandar-te uma mensagem:
"Gosto mais quando o final é feliz".
Peço a Deus que seja possível Ele errar.
Se não, o erro é só meu.
Só não tem perdão não teres comido as batatas fritas. Foi o único empenho desnecessário.
- Qual é o teu estado?
- Vagamente solteiro.
- Isso quer dizer o quê?
- Que se me casar amanhã, tenho de avisar duas ou três pessoas antes.
Hoje chorei de novo. Por mim, não por ele.

Tuesday, September 16, 2003

Inteligência

Tenho saudades do VPV. O mundo está muito mais perigoso.

Herman Sick ou o freak show

José Castelo Branco, Cláudio Ramos, professor Alexandrino e um palerma cuja arte consiste em peidar-se em público. Foi isto o regresso do Herman.

Herman Sick. Ou Freak Show. Com audiências, claro.

O plateau do País é mal frequentado, a plateia aplaude.



O erro estratégico

Para lá dos dramas individuais - dos que se podiam ter precavido e não pensaram nisso, dos que nem sabiam que se podiam precaver com seguros, dos que simplesmente choram discretas lágrimas de tristeza irremediável - os incêndios deste Verão Negro são também um desastre para o que Portugal tem de mais estratégico: o turismo.

As terras que arderam eram bonitas, eram - podiam ser - destinos turísticos. Eram - podiam ser - paisagens por explorar.

Um país pobre em recursos e fraco em gente formada, tem de aproveitar o que só o homem - ou a natureza com a ajuda da incúria humana - pode destruir ou salvar.

Estas paisagens ardidas, estes mais de dez por cento do nosso território, eram - podiam ser- a maior aposta de um pequeno negócio de sucesso: o turismo rural.

Não estou a falar dos turismos rurais com casas antigas decoradas à moderna. Estou a falar do tursimo que se faz no interior, daquele que não vive apenas do calor, da praia e do mar.

Agora não. Agora já não. Deixa-se - sim, deixa-se, porque não se faz tudo o que é possível e impossível - arder, queimar, destruir, o que podia e devia ser a nossa maior aposta estratégica.

Perdemos dez por cento do País, e muito mais do que isso do nosso potencial. Somos um erro.

O abandono

A aldeia não estava rodeada pelo fogo, mas havia chamas em quase todos os lados, e uma das frentes desceu pela encosta, depois de derreter meia dúzia de eucaliptos, até passar rente à escola e a uma casa. Depois seguiu, rápida, espalhando-se em fagulhas pelos pastos, até voltar a encontrar uma encosta de mato e sobreiros. No dia seguinte continuava, sem travão, espalhando-se por uma serra sem nome conhecido, que os telejornais não conseguiam identificar.

Junto à aldeia, no cruzamento que é lugar de passagem e lhe serve de centro, juntava-se gente dali das aldeias próximas. Curiosos, sobretudo isso. Os alentejanos que me desculpem, mas era mais a curiosidade do que a solidariedade, talvez porque seja difícil a um povo ser, ao mesmo tempo, individualista e solidário. Curiosos, portanto. Mas dispostos a ajudar também.

Quando o fogo atravessou o pasto e passou rente à escola e à casa, juntou-se gente, correu-se, bateu-se em fagulhas que incendiavam e até se salvou a casa. Foram eles, os curiosos, que se mexeram. E o Estado, onde estava o Estado? Longe.

Entendamo-nos. Não faço parte dos que tudo esperam do governo e do Estado, mas a sensação de abandono que se sentiu naquela aldeia - Nave Redonda - e em todos os outros lugares por ali, foi forte de mais.

Faltaram bombeiros, faltaram tropas que orientassem as boas vontades populares e, no limite, que apagassem fagulhas também, faltaram GNR's que não ficassem apenas no cruzamento, vinte à conversa. Faltaram militares que no dia seguinte patrulhassem as serras. Faltou a mais legítima exigência: que num momento de tragédia, tudo, mas mesmo tudo, fosse feito.

O mal do governo está em não ter percebido isso, agora que já percebeu o resto, a necessidade de comunicar com o País que não ardeu. Esse será o mal do governo. O mal do País é bem maior. Mesmo com uma lição recente, não estamos preparados para nada, não estamos prontos para enfrentar uma tragédia assumindo-a como tal. Somos estruturalmente incompetentes. Desenrascas que não pensam antes nem medem as consequências depois.

E há o resto. Estas são terras abandonadas pelo poder, desertas de iniciativas, de planos, de investimentos. São uma espécie de peso indesejado que o País - o País, não apenas os governos - suporta com enfado e distância. E foi isso, foi esse sentimento de absoluto abandono que naquela sexta-feira a gente da Nave Redonda sentiu.

Era possível apagar ali aquele fogo? Não sei. E com sinceridade reconheço que nem é isso exactamente que me interessa. É o abandono, a sensação de abandono, que me aflige.

Thursday, September 11, 2003

Size matters? Parece que sim.

A srª D. Mariana Campbell, entre outras, há vários dias que me manda aumentar o pénis.

Se eu já a tivesse conhecido dentro do género mais íntimo, sentia-me ofendido, ou pelo menos humilhado.
Não sendo o caso, há um aspecto que me parece mais relevante. A srª D. Mariana Campbell, e as outras, não mandam mails a dizer "improve your practice". Quererá isto dizer que, de facto, o mais importante é o tamanho?

Para evitar revisionismos

11 de Setembro

Há dois anos um grupo de terroristas matou mais de três mil pessoas no coração da civilização ocidental.

Wednesday, September 10, 2003

200 Mil Contos

Preciso de 200 Mil contos, para investir num negócio que me fazia muito feliz. Não tenho é dinheiro, e aquilo não deve dar lucro. Mas fazia-me muito feliz, lá isso fazia.

Infelizmente, como agora diria o Carlos Pinto Coelho, não acontece.

Casa Pia

No processo Casa Pia já há quem esteja pela defesa e quem esteja pela acusação, como nos jogos de futebol onde se discutem apenas paixões.
E, como na bola, em vez de cidadãos exigentes, há adeptos; em vez de observadores atentos, há claques.

A busca da verdade, que nestas coisas é um exercício exclusivo da razão, é a mais recente vítima.

Ao menos nos circos romanos sabia-se, desde o começo, quem eram os leões e quem eram os cristãos.




Caderno Preto. Cont.

E no fim escolhe
a figueira mais bonita.

Caderno Preto. Primeiro de alguns.

A TVI, a Casa Pia, as telenovelas, a Paula Bobbone, a falta de honestidade intelectual, o Fórum TSF, a lógica sindical, os corporativismos, a vida íntima de estrelas que preferia desconhecer, o José Castelo Branco, o ódio a Israel da direita muito católica e da esquerda muito ideológica, o Adelino Granja, a irresponsabilidade individual, a convicção de superioridade moral da Esquerda e os complexos da Direita, a ausência completa de ordenamento do território, a maralha que manda na bola, a lógica do lucro fácil no que deve ser opção pela qualidade e a lógica do subsídio no que deve ser negócio, o 24 Horas, e o resto de uma lista infindável de ódios de estimação pessoais mas transmissíveis.

«O país é mal frequentado» e «se a realidade é assim, prefiro viver alienado».

Caderno preto

Às vezes, faço do Blog um caderno de apontamentos dispersos e inconsequentes e gravo frases. Como os próximos posts.

Nós e o Estado

De vez em quando fazem-se descobertas. Às vezes até no meio de uma conversa. Tudo isto para dizer que descobri que, ao contrário do que tantas vezes se pensa, os portugueses distinguem governo e Estado. Veneram o poder, mas detestam - ou invejam -, quem o detém. Como se o Estado fosse o pai, e o governo a madrasta oportunista.
Por isso é que a culpa é sempre do governo, seja ele qual for, e raramente se encontra quem reconheça ter votado em quem manda. Mas por isso, também, é que se insiste em esperar tudo do Estado.

O governo, que é escolhido, é detestado. O Estado, símbolo abstracto e exercício concreto do poder, é temido.

A evidência da contradição é irrelevante para o raciocínio comum.

Diálogos

Há muito tempo. Ou nem tanto quanto isso.

- A terra não dá dinheiro.
- Pois não. Mas dá poder. E segurança

Tuesday, September 09, 2003

Tenho escrito pouco

Ter um blog não há-de ser uma preocupação, nem um dever. É uma liberdade. De escrita, e de silêncio.

E de alguma indisciplina também . Mas isso vou corrigir. Só isso.

Tuesday, September 02, 2003

A direita, esse peso.

Em "mais agradecimentos", ASL, do Glória Fácil diz que há um «peso excessivo da direita» na blogosfera. Os gajos até podem existir, mas há limites, certo?

A Iva Pamela e outras questões importantes

A quem eventualmente me leia, por favor digam-me o que foi que aconteceu à Iva Pamela. Nunca soube bem o que é que a rapariga fazia na vida - jornalista, actriz ou uma coisa assim, que dava direito a sair nas revistas - , mas isso nunca me interessou. O importante era o nome. O ligeiro ar de Pamela que a rapariga tinha. Ela existia, eu não sabia quem ela era, mas quando a via ficava feliz a tentar imaginar como tinha arranjado um nome assim. E agora, sem aviso, encontro uma Caras e a moça aparece com o modesto e irrelevante nome de Iva Domingues. É ela, eu sei que é ela, tem o mesmo ar de Pamela e tudo, mas mudou de nome. Porquê? Porquê?


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Só mais uma coisa, um quilo e duzentos de café em grão para moer, dá para quantas bicas? Isto pode parecer irrelevante, mas na SIC perguntaram ao dono de um tasco em frente ao CEJ quantas bicas a mais tinha o cavalheiro vendido hoje, e o homem só soube responder que já lá ia quilo e duzentos de café. Mas isso em bica dá quanto? Maldita falta de rigor informativo.

Monday, September 01, 2003

O circo começou

De manhã a TSF dedicou o Fórum, como seria de esperar, ao Caso Casa Pia. Mas, e ao contrário do que algum bom senso aconselharia, não se discutiram generalidades mas antes verdadeiras especialidades jurídicas. E o bom povo lá opinou sobre o incidente de recusa de Juíz e sobre as virtudes e deficiências da teleconferência.

Não me repugna que tudo se discuta, e o melhor mesmo é pensarmos que o futuro acabará por ser assim, goste-se ou não. Mas a ideia de passarmos os próximos meses a discutir entre todos as mais variadas alíneas do Código de Processo Penal assusta-me. Não porque o tema não deva ser discutido, insisto. Mas porque, como já se percebeu hoje, a relação entre a razão e a emoção será proporcional à capacidade de cada uma das partes fazer passar as suas versões.

As paixões estão à solta. Os próximos meses serão um desastre.

O beco de Ferro.

Ao que parece, o comício do PS terá sido considerado uma coisa enfadonha e desinteressante, onde o Dr. Ferro terá dito umas coisas desagradáveis sobre o PP, Portas e a putativa direita radical. Mais ainda, apesar do próprio ter feito questão de anunciar no Expresso que era isso que ia dizer, tem havido queixume sobre a excessiva importância dada a essa parte do discurso.

Não vi, nem ouvi. Mas tenho opinião (reconheço que o facto pode fazer de mim apenas mais um português típico, mas arrisco). Até porque o mais relevante é a intenção do discurso, e essa parece ser óbvia. E, estou convencido, com resultados desastrosos.

Ferro escolheu atacar Portas e o PP, numa lógica de Bloco Central. O que o senhor quer que o eleitorado do centro que vota PSD pense é que o seu partido, e o primeiro ministro por acréscimo, estão reféns da "alegada", como agora se diz muito, direita radical de Portas.

Para que o eleitorado de centro do PSD fosse sensível ao discurso de Ferro, era necessário que visse ali alguma semelhança com a realidade. Sem histerias, tem de se reconhecer que não há. Por mais que o Público escolha a imagem de Portas a benzer-se para ilustrar a homenagem a Maggiolo Gouveia, a Pátria não encontra, nem sequer naquela imagem, um sinal de fúria radicalista de direita. Pode até haver quem ache o episódio desnecessário, mas dificilmente o Centro sente o regime atacado, ou o sistema em perigo.

Portas será desagradável para muita gente de centro, mas o governo é manifestamente dirigido por Durão e pelo PSD. Tentar fazer crer que não é assim é um erro duplo. Em primeiro lugar, porque o país fica a achar que como analista o líder do PS é fraco. Em segundo lugar, porque está ao mesmo tempo a dizer que o mal não é o PSD, é o outro.
Além disso, corre o risco de parcer mais candidato a ministro de Estado e de outra coisa qualquer do que a Primeiro ministro. Ou seja, parecia alguém a queixar-se de ser preterido. É pouco para líder do maior partido da oposição, é mau para suposta alternativa.

Por último, o problema dos radicais. Ferro acha o PP radical. Acontece que o país, ao que parece, não concorda. Pelo menos em quantidade suficiente para obrigar ao fim da coligação. Em compensação, Ferro um dia terá de dizer se acha o Bloco ou o PC, ou ambos ou apenas um deles, radicais. E aí corre o risco de que o país os ache. Por mais que a comunicação social goste do Bloco, o país dificilmente se pode rever neles. Mais, facilmente o dito eleitorado de centro é bem capaz de não encontrar grande graça na agenda do Bloco, que é tudo menos atractiva para o centro, para as classes médias. E quanto ao PC? Era interessante ter um dia uma sondagem feita nos eleitores do centro, sobre a eventualidade dos comunistas terem um ministro num governo do PS. Admitindo que pouca gente de centro - que muitas vezes vota PS porque mais à esquerda era incapaz - aceitaria ver Carvalhas como Ministro do Trabalho, não custa tirar as consequências.

Ou seja, politicamente Ferro escolheu um beco, e pessoalmente manifestou um ódio. Manifestamente pouco eficaz. Pouco, portanto.

Resta outra interpretação. Ferro limitou-se a mudar de táctica mantendo a estratégia. Ou seja, fazer tudo por tudo para que o governo caia derrubando o segundo parceiro da coligação. Foi o que se viu no último ano com a Moderna. Este ano será com o quê? Tenho as minhas suspeitas, mas deixe-se o tempo passar.

S.T.

Se fosse a tua sombra, onde me guardarias de noite?

A minha chuva. Ou o regresso.

Depois das primeiras chuvas, as nuvens fizeram-me companhia até casa, marcando definitivamente o fim das férias, como há muitos verões atrás.

E, como há muitos verões atrás - mesmo que agora seja sem mochilas para comprar, nem listas de livros ou cadernos pautados - faço o regresso com todas as promessas íntimas de quem volta. Mais do que de Dezembro para Janeiro, o ano começa mesmo é no fim do Verão. Prova de que a maior parte das vezes o fim de um é apenas o começo de outro.

Amanhã o mundo - o meu, apenas o meu - será diferente. Melhor, prometo-me. E hoje ainda acredito.