Friday, September 30, 2005

Che e não só

Recuperei o meu acesso à New Republic. Este fim de semana conseguirei finalmente ler o texto de Vargas Llosa sobre Che Guevara. Segunda há post, cheira-me.

Desabafos

Por um acaso vou aos meus arquivos de jornalismo atrás de uma história sobre escolas, para regressar com saudades do que sou.

Thursday, September 29, 2005

Cenas da Integração Europeia *

* Título e secção regular do Imperial JV, mas como ele está fora, esta faço eu mesmo aqui.

No meu mail aterra esta extraordinária visão do mundo.

"Madame, Monsieur,
Du 10 au 12 octobre prochain, la Fédération Européenne de Bridge organisera au Parlement Européen une exposition "Bridge for Peace" montrant les différents aspects sociaux et pédagogiques du Bridge.
A cette occasion, la Fédération m'a prié de me livrer à un petit sondage. Je vous saurais gré de bien vouloir répondre aux questions suivantes (soulignez votre réponse):
1. Jouez-vous ou avez-vous joué au Bridge? Oui Non
2. Pensez-vous que le Bridge puisse jouer un rôle social? Oui Non
Avec mes salutations distinguées,"
Um Eurodeputado estrangeiro.

Francamente, eu não sei jogar bridge e posso estar a ver mal a coisa mas parece-me que há limites para o ridículo e que foram nitidamente ultrapassados.

Responsabilidade na Justiça Criminal

Há muitos anos que se discute o que deve ser alterado na política criminal, nomeadamente nas regras que definem quem e como manda na política criminal. Em tese, neste momento ninguém manda no Ministério Público. Manda o Procurador-geral e, mesmo assim, não só não manda muito como nem é suposto mandar. A tese diz que o MP deve ser independente dos políticos. Em tese têm razão. Mas em tese o mundo seria melhor e não é.
Ora, quando os jornais - como o Público de hoje - dão conta de vários inquéritos cujo destino é desconhecido, a primeira pergunta é: quem é responsável? Mas a segunda, menos frequente, é mais importante: quem pode fazer essa pergunta? Em Portugal, ninguém. O Ministro da Justiça não pode - e bem - mandar no Ministério Público. Pergunta quem? Responde perante quem, esta gente?

Se por uma vez se seguisse o exemplo americano, a nomeação do PGR passava a ser feita pela AR, antecedida de uma verdadeira audição parlamentar (sim, nada de simples votação para garantir que o Bloco Central se entende) à americana, com perguntas difíceis e aberta à comunicação social. Depois, todos os anos o cavalheiro nomeado havia de lá voltar para prestar contas. Ou isto ou nunca haverá responsabilidade na Justiça Criminal.

Justiça Popular

De acordo com a doutrina oficial da inteligência nacional, é suposto sentir-se repulsa, nojo ou pelo menos estupefacção perante as candidaturas de Avelino, dona Fáti, o Major ou Isaltino. Mais. Perante a provável vitória desses criminosos, assegurada pela ignorância do povo, deve pelo menos sentir-se algum fastio. Há brutos que o dizem e gente civilizada também. Percebo-os, mas manifestamente não me parece que saibam do que falam.

Em primeiro lugar, gostava de saber de que são culpados estes cavalheiros (e senhora - enfim, o termo será excessivo, mas pronto -)? tanto quanto percebi, uns nem acusados foram (Isaltino), outros recorreram e uma esteve fugida porque a gente ilustrada sabe que sim, apesar de o tribunal não o poder evidentemente provar. Seja como for e segundo a boa doutrina tantas vezes recordada durante o processo Casa Pia, até prova em contrário ... pois, eu sei que incomoda, que a malta é culta e sabe muito bem que estes especificamente são uns malandros. Serão. Mas só depois de provado em Tribunal. Até lá, nada.

De resto, não satisfeita com a Justiça que temos, a Pátria culta considera que cabe então ao povo fazer o que a Justiça não consegue: condená-los. Querem, pois, que as eleições sejam um julgamento popular.

E, por último, quando olham com enfado ou nojo para o apoio popular que esta gente recolhe, ofendem-se por ter um povo assim. Compreendo-os, de novo, mas manifestamente nunca foram às terras de que falam. Vão lá e tentem perceber porque razão o povo os admira. É proque é tudo funcionário camarário e tem de amar o chefe? Às vezes as coisas são simples, mas raramente são assim tão simples.

Tudo isto para concluir o óbvio. Em todos estes casos o que falhou foi a rapidez da Justiça. Fizesse a Justiça o seu trabalho e nada disto aconteceria. Até lá, querem que o povo faça justiça Popular. Querem um mal maior.

What´s wrong with us?

Segundo o World Economic Forum , essa coisa que reúne em Davos e os antiglobalistas detestam, Portugal está em 22º lugar na tabela das economias mais competitivas, tendo subido dois lugares de 2004 para 2005. Para que se compreenda a coisa, repare-se:
Finlândia, Estados Unidos, Suécia, Dinamarca, Taiwan, Singapura, Islândia, Suíça, Noruega, Austrália, Holanda, Japão, Reino Unido, Canadá, Alemanha, Nova Zelândia, Coreia - a boa -, Emirados Árabes Unidos, Qatar, Estónia, Austria e logo a seguir: PORTUGAL. Nota-se?

Por uma vez temo concordar com a rapaziada anti-globalista. Há aqui qualquer coisa que não bate certo. Ou lá, em Davos; ou cá (aí), em Portugal.

O incómodo da burguesia

Em tempos as elites das classes altas confiavam o governo da Pátria a gente de origem humilde, hábitos simples e pouca ambição social. Para não ir muito longe, foi assim com o filho dos caseiros de Santa Comba. Em Democracia, no entanto, as elites são outras, mais burguesas, incomodam-se com o senhor que subiu na vida directamente da gasolineira para a universidade estrangeira e sentem repulsa quando o homem fala de boca cheia ou, pior, se passeia juntos dos poderosos e dos famosos. Antigamente as elites contratavam esta gente para tratar da intendência, agora eles mandam e a nova burguesia sente-se incomodada. No fundo sente-se roubada e tem medo de ser confundida.

Wednesday, September 28, 2005

Um bom jornalista e um País que não se incomoda

Há vários anos que considero o José António Cerejo um dos poucos jornalistas de investigação em Portugal e um jornalista sério, daqueles para quem um facto pode mesmo dar cabo de um excelente título, da mesma maneira que a falta de um documento só o faz procurar, não o faz desistir nem imaginar. Não o conheço pessoalmente, mas é essa a opinião que tenho, até prova em contrário.

Estou longe, não leio o Público todos os dias nem vejo as notícias portuguesas com grande regularidade, mas ainda assim vou vendo muita coisa. Ora, hoje recebi um mail - eu e metade da blogosfera, presumo - que gostava que alguém me dissesse que teve consequência.

"Jornal PUBLICO
23 de Setembro de 2005
12 milhões pagos pelo Estado em 2001
Escritório de Lamego, Costa e Vitorino conseguiu indemnização para um
cliente que tinha sido recusada por Cavaco Silva
José António Cerejo"

O que é isto? Será que alguém se incomoda?
Ah, a Fátima Felgueiras, pois, isso sim é grave. E o Major, nunca esquecer o Major. Felizmente os maus estão todos identificados.

Tuesday, September 27, 2005

Cavaco a direita e o poder

A discussão entre o FNV no Mar Salgado e o PPM n´O Acidental sobre a natureza ideológica da candidatura de Cavaco e sobre a presidência ter sido de esquerda desde o segundo mandato de Eanes tem muito que se lhe diga. Tentemos responder por partes.
Para começar, se quisermos fazer balanços estatísticos concluímos que desde as primeiras eleições o candidato do PS foi sempre o eleito. Isto é válido para todas as eleições. E isto é mais verdade do que dizer que foi sempre o candidato de esquerda que ganhou já que na segunda eleição Soares teve o apoio do PSD. Ou seja, podem-se dar várias voltas ao texto, procurar diferentes regularidades estatísticas e interpretações.
Na verdade a interpretação mais simples talvez seja a de que quando o confronto se apresenta como esquerda / direita - e não mais ao centro como ocorre nas legislativas em que os principais partidos rumam ao centro - a maioria do eleitorado português é de esquerda.

Isto dito, o FNV levanta uma hipótese interessante: a de que no fundo o eleitorado seria conservador e veria na presidência uma função de travão e na esquerda a natural inclinação para o exercer.

Duvido. Mas há, de facto, uma novidade nestas presidenciais que pode ser interessante. Se o tom do País for aquele que parece ser - pelo menos visto e lido à distância e um pouco ao vivo - um voto em Cavaco parece ter um significado original.

Depois de eleger um governo por manifesta impossibilidade de votar numa solução que se tinha revelado incompetente, o País ainda assim não acredita que as coisas estejam no bom caminho. Se assim for, o voto em Cavaco é quase uma carta branca para que o presidente seja o garante da adopção de políticas económicas eficazes - há aqui um problema: a memória do país é a de que Cavaco é rigoroso mas também generoso, não houve sacrifícios no tempo de Cavaco e a ilusão na reedição de um tempo assim pode ser a motivação principal destes eleitores.
Ora é acima de tudo por isso, mas também pelas circunstâncias, que Cavaco é o candidato da direita - não o candidato de direita, esse detalhe é de enorme importância. Não é a memória do Cavaquismo, as benesses aos funcionários públicos, o Estado laranja ou tudo isso que o torna no homem da direita emuito menos de direita. É a imagem de austeridade, rigor e seriedade do homem que o torna simpático à direita.

No fundo é tudo mais simples do que parece. E é por isso que uma proto-candidatura de um bocado da direita só para dizer que existe é fútil e inútil. O objectivo à direita não é puxar Cavaco para o lado de cá. O objectivo deve ser o de eleger o homem. A equação é simples e até o Dr Portas pode ser invocado: nas presidenciais a direita não escolhe, a direita elimina. E eliminar o Dr. Soares seria um gozo tão grande.

Os suiços não têm medo do canalizador polaco

Por alturas do debate do referendo em França foi inventada a imagem do canalizador polaco que iria invadir os gauleses se a constituição fosse aprovada. A ideia era um disparate, porque a Constituição nada tinha que ver com liberdade de instalação para além de que, de qualquer forma, polacos ou não, os franceses precisam de canalizadores. Mas ganhou o não.

Poucos meses depois, ontem, os suiços, que nem parte da UE fazem, aprovaram em referendo a possibilidade dos nacionais dos dez novos Estados Membros se estabelecerem na Suiça, coisa que dos 15 antigos EM apenas três - Reino Unido, Irlanda e suécia - fizeram.

Conclusão, citando um diregente político suiço: os suiços não têm medo do canalizador polaco. Ou melhor, os suiços têm uma economia e são realistas.

Um bonito esforço

José Manuel - forget the Durão - Barroso acordou do torpor estival com vontade de relançar a Europa, a Comissão Europeia e quem sabe o que mais.
No actual contexto o esforço talvez seja inglório mas, para ser sincero, merece aplauso. Em pouco tempo Barroso e companhia reuniram uma lista de 70 propostas de legislação comunitária - entre propostas de regulamentos, propostas de directivas e outros - que são para enviar para o caixote de lixo. Para além de legislação absolutamente caduca que ainda seguia o seu tranquilo percurso burocrático apesar de já não ter sentido - caso de matérias que tinham que ver com o alargamento entretanto já concretizado - há matérias como a exposição ao sol dos trabalhadores que não há nenhuma boa razão para ser matéria de legislação comunitária e que a equipa de Barroso manda às urtigas.
Não legislar não costuma ser motivo de excitação mediática, nem costuma colher apoios - a mania é acreditar que é legislando que se resolvem os problemas. Até por isso, e pela sensatez do propósito, Barroso está de parabéns.
Entretanto os burocratas e alguns Deputados Europeus urram sem saber o que fazer. Se não legislarem e opinarem sobre legislação fazem o quê?

Monday, September 26, 2005

A importância

Mais de metade do tempo - estatisticamente talvez seja menos, mas acreditem que de qualquer maneira é muito - dos Eurodeputados reunidos em sessão plenária é gasto a reclamar mais atenção e importância. Não há tema de debate nem intervenção de fundo que não sirva para dizer ao Conselho ou à Comissão que o Parlamento exige ser ouvido, ser tido em conta, quer que lhe liguem. Felizmente com pouco sucesso. Infelizmente ainda assim vai tendo algum.

Desenrascanço

"Mão amiga", como diziam os jornais antes de inventarem a fonte anónima, enviou-me este link para a definição de desenrascanço na wikipedia sendo que o melhor não é a definição, é a fotografia. Se alguém perceber e me explicar o que faz o rapaz que está na varanda a segurar de fininho a camisola do desenrasca, isso sim eu agradeceria.

Tuesday, September 20, 2005

Ah, a Europa

Um documento interno do Parlamento Europeu sobre despesas de doença e pensões para os Eurodeputados e respectiva família criou uma nova categoria: as "parcerias não matrimoniais". Para que conste, as parcerias não matrimoniais terão um tratamento idêntico ao concedido ao casamento desde que o casal tenha um documento que certifique o estatuto de parceiros não casados e que nenhum dos parceiros seja casado nem faça parte de outra parceria não matrimonial.

A vida dos outros não me interessa nada, mas o termo parceria não matrimonial não deixa de ser ternurento.Por exemplo, num jantar:
- Olá, esta é a minha parceira não matrimonial.

Fica querido, não fica?
Ah, a Europa.

Só mais um detalhe, para se ser uma parceria não matrimonial é preciso que não se tenha acesso ao casamento civil no respectivo país. Oh, lá se vão as uniões de facto heteros.

A memória

A propósito de Simon Wiesenthal.
Wiesenthal era a memória e quando perdemos a memória - mesmo a que não é nossa, sobretudo a que não é nossa - perdemos tudo.

Parabéns ao Paulo Mascarenhas

Actualização. Agora já consigo linkar, graças ao próprio PPM.
E tudo isto para dizer que quero dar os parabéns ao Paulo, a propósito do artigo hoje publicado no DN.
Um ano e tal depois de ter criado O Acidental, o Paulo fez muito mais do que criar um blog de direita, abriu um espaço que não tem havido em Portugal, um espaço para um direita moderna (liberal, conservadora, democrata-cristã, não entro agora nessa discussão e vou-lhe chamando civilizada). E como nesta matéria me interessam mais os resultados do que as motivações - alguém já devia ter percebido que o CDS-PP apesar do enorme nome é demasiado pequeno para tantas facções, mas isso não é um problema onde eu me queira meter - o Paulo está de parabéns.
Como costumam dizer os juristas, oxalá tenha sucesso.

Isto não está a correr nada bem

Eu compreendo o esforço generalizado para fazer corresponder o resultado das eleições alemãs a uma qualquer visão do mundo. É bonito, mas na maior parte dos casos é desastrado e sem sentido.
Ao contrário do chanceler que diz que ganhou (porque o SPD teve mais votos que a CDU sem a CSU, fazendo de conta que ignora que a CSU é a CDU na Baviera), o SPD e o plano reformista do seu chanceler perderam. Menos do que previsto, mas perderam. Os sucessos eleitorais não se medem frente às sondagens, eles valem por si, são absolutos.

Tal como a CDU não tem razões para festejar. Ganhou, mas não pode fazer nada com este resultado. Perdeu por falta de telegenia da candidata, por a senhora ser de Leste, por ser mulher? Não interessa, provavelmente perdeu sobretudo porque disse que ia ser duro.

É por isso que isto não está a correr nada bem. Não era um vitória da direita que eu queria celebrar, era uma vitória do realismo, da reforma económica e isso, seja qual for a coloração da coligação de governo, não vai acontecer.

Monday, September 19, 2005

Descobertas de fim de semana

Eu é mais bolos. Finalmente percebi o sentido da frase.

Friday, September 16, 2005

Golpe de Estado

Trocar a numeração das sessões legislativas dificilmente se assemelha a um Golpe de Estado, eu sei. Mas são os sinais, os sinais às vezes são tudo. Seis meses passados, as trapalhadas de Santana são isso mesmo, trapalhadas comparadas com o profissionalismo desta rapaziada.

É preciso um referendo para animar a esquerda? Muda-se a regra sobre as sessões legislativas.
Faz falta um presidente do Tribunal de Contas? O Vice-presidente do Grupo Parlamentar serve muito bem (quando se diz isto é suposto dizer-se ao mesmo tempo que Oliveira Martins é um rapaz sério e óptima gente. Não digo. Se fosse não se sujeitava a este número).
E depois a comunicação social.

Visto de longe Portugal parece uma autocracia da maioria. Visto de perto tenho a maior das dúvidas de que pareça melhor.

Eles andam aí

Madrid não tinha sido suficiente. Foi preciso Londres para que alguns responsáveis europeus percebessem que o terrorismo islâmico, e o fundamentalismo que lhe dá ânimo, estão bem no meio de nós e ameaçam-nos.
Esta semana, Gijs de Vries, o responsável europeu pela luta contra o terorrismo, uma criatura geralmente sóbria e discreta, foi a uma conferência a Israel reconhecer que a Europa já tem consciência de que faz parte do campo de batalha dos Jihadistas.
Depois de muitos anos a tolerar fanáticos religiosos em troca, silenciosa, de não agirem em solo europeu, a Europa descobriu que, com o reforço da segurança interna americana e orientação tática de dar a maior visibilidade possível aos atentados, a própria Europa é o local ideal para estes ataques.
A realidade tem, de facto, imensa força.

Tenho um problema

O computador aqui da eurolândia decididu boicotar o bolg. Primeiro não me deixava entrar, tive até que inventar um comentário sem interesse no Acidental para conseguir fazer o log in. Agora não tem a ferramenta dos links - ah, se tivesse eu explicava ao Nuno Costa Santos (entre vários abraços e cumprimentos)como é verdadeira a tese do Oakeshott sobre a disposição conservadora relativamente às ferramentas. Em não havendo nada disto, vou ter de deixar os posts que queria fazer para casa, o que é uma pena. Até um post sobre o Astérix traduzido para mirandês tinha!.
Com as desculpas pela ausência provisória de links, reabrimos o estabelecimento lentamente.

Desencerrado

As férias do meu blog acabaram. E para que conste, as minhas férias são grandes mas as férias do meu blog foram maiores que as minhas.