Thursday, February 24, 2005

Mais coisas simples

Continuando o anterior post...
As pessoas votam com o mesmo critério com que fazem um seguro, e as companhais de seguro não se chamam Risco, Aventura, Reforma ou Mudança. Chamam-se Tranquilidade, Confiança e Fidelidade. Ou Império, que deve ser a seguradora da direita mais saudosista.

Note-se que estou a falar da forma, não estou a falar do conteúdo. Ainda tenho algum juízo. O suficiente, pelo menos.

Coisas simples

Francisco José Viegas escreve hoje no Aviz e no JN o que sendo óbvio às vezes é pouco recordado. Foi de facto por isso, por não prometer nada mais do que uma vida melhor - não se alongando em minudências como seja saber como se consegue isso - , que Sócrates ganhou. Por isso, porque não pareceia haver alternativa do outro lado e porque perante o risco de alianças à esquerda houve quem sensatamente resolvesse sair de casa e votar num governo de centro. É o que eles esperam. Entre Santana e Louçã escolheram Sócrates.

Wednesday, February 23, 2005

Mais desculpas

Desde que o blog deixou de ser anónimo, e graças a alguma publicidade generosa, tenho mails para agradecer, links para colocar e algumas intendências de que cuidar.Por enquanto ainda falta o tempo, mas sobra-me o sentimento de culpa, essa arma poderosa.

As eleições vistas deste lado da direita

Para começar, e ao contrário de alguma inteligência pátria, não acho que o país tenha de facto virado assim tão radicalmente à esquerda. É evidentemente impensável que quase setenta por cento dos portugueses - excluindo, e mal, alguns eleitores do PSD que são mais de esquerda do que de direita - se situe politicamente entre a esquerda e a extrema-esquerda radical e populista. E se o PS pensa que sim, vai rapidamente descobrir que há eleitores que se vão sentir enganados.

Ou seja, aquilo que me parece é que o PS recebeu, mais ou menos a título de empréstimo, o voto de muitos eleitores moderados que entre os sacrifícios assumidamente pedidos pelo centro-direita e as promessas de facilidade do PS, preferiram o caminho da facilidade. Resta saber se encontraram por aí o caminho da felicidade, mas isso é outra conversa. Além disso, acredito que muitos foram votar para garantir que o PS não dependeria de uma maioria de esquerda radical. Um pouco como, há quase vinte anos, alguns eleitores de centro direita votaram Soares para evitar que a segunda volta fosse entre Freitas e Salgado Zenha ou Pintassilgo.

Por outro lado, parecem ter havido dois movimentos na direcção do Bloco de Esquerda. Por um lado, uma deslocação de voto do PS para a sua esquerda mais radical, muito motivado exactamente por algum desconforto com o tom centrão que o PS deu ao seu discurso eleitoral. Por outro, um movimento vindo directamente dos novos eleitores e da abstenção, em favor de um discurso populista, fácil e demagógico, mas que sendo de protesto e quase monotemático, o torna atraente.

É evidente que o Bloco, com três deputados, se podia dar ao luxo de falar de facto apenas de duas ou três coisas: droga, aborto e direitos dos homossexuais. Resta saber se um Bloco com oito deputados pode continuar a seguir esse caminho. A demagogia é natural num partido de protesto, mas é dificilmente aceite num partido que cresce como o Bloco cresceu.

Por último, há ainda que reconhecer que algum do encantamento que muita comunicação social tinha com o bloco esmoreceu ao longo da campanha, por causa da campanha e das declarações dos dirigentes do bloco. E aqui há que dizer que o crescimento do Bloco, o avanço da extrema-esquerda, revela que o centro-direita não tem sabido travar um combate cultural com esta força poderosa que é uma mistura de bons sentimentos com soluções aparentemente fáceis e uma enorme dose de demagogia. Visto pelo bloco o mundo seria um lugar encantador se houvesse aborto livre, drogas livres e casais homossexuais a adoptar plenamente. Acontece que o mundo não é assim, e aqui nós, centro-direita, cometemos ao longo dos últimos anos o erro de não travar de frente este combate essencialmente cultural. Esse sim é um aspecto essencial para a reorganização do centro-direita.

E então, finalmente a direita e o centro-direita.
No essencial, e resumidamente, a maioria foi interrompida a meio do mandato, no pior dos momentos, foi interrompida por um Presidente que se colocou de um dos lados da contenda eleitoral, e acabou, um pouco previsivelmente, por pagar o preço eleitoral de uma política de sacrifícios. Coisa em que o PS devia pensar, porque vai ser um governo de 4 e não apenas de dois anos e portanto vai ter de governar o país e não uma tenda de circo que se monta e desmonta.

Quanto aos partidos, julgo que o PSD terá oportunidade de fazer uma reflexão interna e não entro por aí.A minha tese é que o PSD vai escolher a via do meio, e no fundo dar ao eleitorado aquilo que acha que lhe faltou, um partido igual ao do governo, mas que promete mais fácil. Esta é uma das características mais estranhas do nosso sistema eleitoral, mas é o que temos. Dois partidos de centro que disputam o mesmo eleitorado volátil.

Já quanto ao CDS, e deixando para outro post uma discussão mais longa sobre o que eu gostava que fosse este espaço, noto duas ou três coisas.
O CDS teve um mau resultado, sobretudo tendo em conta a fasquia que nós próprios colocámos e as expectativas que se tinham generalizado tanto em nós como em alguma comunicação social, e isto porque a esse nível era reconhecido que o CDS chegava às eleições com obra feita de que se podia orgulhar, com um discurso sereno e com um estilo de campanha com propostas.
O que falhou? A verdade é que o CDS passou a ser um partido do arco da governabilidade, e isso obriga-o a um tipo de comportamento diferente dos que são militantemente partidos anti-sistémicos. E há um aspecto sobre o qual é importante reflectir. O CDS cresceu junto de um determinado eleitorado, mais urbano, e perdeu junto do eleitorado menos urbano. Cresceu o CDS nesta nova versão de "direita civilizada" como eu gosto de lhe chamar, mas que lhe podem chamar liberal ou conservadora de tipo britânico que também é verdade.
Pelo contrário, perdeu o lado PP, o lado mais popular, mesmo mais populista, com discurso mais atraente para os eleitores de protesto.

Terá isto sido por força de um modelo de campanha menos popular? Se sim, então o problema é táctico, é de método. Embora eu ache que não.
Ou será que perdeu pelo simples facto de carregar o ónus da governação? Bom, mas esse é o custo de ser um partido do arco da governabilidade. Isso, mais do que nomes, sucessões ou secessões, é o que o CDS tem de discutir. Ou melhor, primeiro que tudo, convinha de facto discutir neste espaço político que tipo de representação queremos, e digo-o com o topete de quem não é filiado mas é politicamente definido.Bom, mas sobre isto virá outro post.

O mais importante

Pela data percebe-se que não, mas à cautela faço notar que o post "a grief observed" não é nem nunca poderia ser sobre as eleições. Durante dias temi, e tremi, pela vida de um amigo. Só isso, que é quase tudo. Agora, que tudo vai ficar bem, volto ao blog e a uma lenta normalidade.

Contradição humana. Inside post, antes da opinião sobre os resultados.

Quem é amigo de Paulo Portas, e eu sou, sabe que não se pode pedir a ninguém mais quatro anos da sua vida.
Quem é de direita e se reconhece plenamente neste CDS que foi a votos dia 20 - mesmo não sendo militante, e eu não sou por razões minhas - sabe que tem o dever de lhe pedir que fique.

Friday, February 11, 2005

It´s the money, man

O Pedro Marques Lopes perguntava há dias Porque diabo?
Todos os partidos acham que a Caixa Geral de Depósitos deve continuar a ser pública. Porque diabo o Estado deve ter um banco comercial?


Para comprar as seguradoras do BCP quando o presidente do banco está de saída e quer apresentar bons resultados? Para financiar grandes investimentos de investidores sem dinheiro nem projecto? Ou mesmo, para perceber bem bem, talvez o melhor seja ler - nunca pensei fazer esta sugestão - um livro de João de Deus Pinheiro, o "palavra de honra" ou "Eu abaixo assinado" ou lá o que é. Está lá tudo meu caro Pedro, tudo.

A grief observed

"- Well, life must go on."
"- I don´t know if it must, but it sure does."

in Shadowlands, com base no romance de C.S. Lewis, "A grief observed".

Tuesday, February 01, 2005

Entretanto...

Estou em falta com vários agradecimentos - supostamente já deveria ser capaz de colocar os links aí ao lado e fotos nos posts - mas assim que tenha tempo, agradeço e faço o que me falta. Então também responderei a alguns mails.

Entretanto, vou para casa. Chego a Lisboa amanhã.