Sunday, October 26, 2003

A incoerência, essa virtude

O senhor Deputado Vicente Jorge Silva disse, em tempos - eu lembro-me, porque o que me incomoda fica-me na memória - que defendia o direito dos jornalistas divulgarem a vida privada dos políticos, desde que ela revelasse contradições com a sua vida pública.

Se o percebi, é o tipo de argumento com que o P. concorda. Eu não. Para começar, o conceito legitima todas as investigações de jornalistas. Passa a ser válido perseguir um ministro, escutar-lhe as conversas, ler-lhe a correspondência, tudo só para ver se é coerente.
Depois, confunde o que são políticas públicas com opções individuais - será assim tão difícil perceber que defender a família não obriga ninguém a procriar?.


Mas, se concordasse com essas teses, então achava absolutamente legítima a divulgação e discussão à volta das escutas a Ferro. O homem declara em público que respeita os magistrados, defende a Justiça e os seus segredos e depois diz o que diz. Se eles fossem coerentes - coisa que manifestamente não são - deviam estar felizes com as revelações das escutas e desiludidos com Ferro - coisa que oficialmente não estão.

E então, como é?

Se eu deixasse
de fumar, de beber, de deitar tarde, de sonhar, de desistir, de insistir, de ter fúrias, de ser manso, de estar.
Se eu deixasse. Só.

FletwoodMac

Fui infectado. "Wish you were here".

O que é a noite: Plágio I

O Aviz tem andado com este tema às voltas. Há-de ser falta de sono, ou sonos trocados. Mas vale pela conversa. Fica aqui, então, mais um contributo.

É adiar o fim.
Corremos o dia como todos, mas chegamos-lhe ao fim mais tarde, com mais tempo. Prolongamos pela noite o dia. Adiamos o fim, tentamos corrigi-lo.

Não será só isso, mas também é.

O regresso do bloco central

O Mestre de Aviz já falou disso, dos sinais de regresso do Bloco Central na história da Casa Pia. E eu acompanho-o. Ou melhor, acho que os sinais não são de agora, são do começo do Verão, quando o velho doutor Soares percebeu o que estava em causa. O político mais experimentado percebeu que estava em causa o sistema - como gostam de dizer.

Em Junho, ou Julho, Soares andou a berrar que isto era pior do que na ditadura. Claro que não é. Mas há uma razão para Soares reagir assim. Seja Pedroso inocente ou culpado, o que para o velho doutor Soares interessa é que um político foi, de facto, sujeito ao poder dos juízes, a separação de poderes funcionou, o poder do político não. E, quando o que está em causa é o poder de quem faz política, Soares sabe sempre de que lado está: do lado de Beleza, de Craxi, ou de Melancia, tanto faz.
Soares, como sempre, percebeu antes de todos.

O processo Casa Pia é incompreensível por agora. Querer ter opiniões definitivas é mais do que insensato, é um disparate completo, é alinhar com as certezas parciais de cada parte, que com zelo os diferentes jornais e televisões vão revelando, conforme o lado que tomaram neste conflito.

Sim, disso não haja dúvidas, o que está em causa, pelo menos por agora, é um conflicto entre poderes, entre jornais, entre lados diferentes da sociedade. A esquerda uniu-se a Pedroso e, mesmo quando não intencionalmente, contra a Procuradoria. A direita silenciou-se, mesmo que quisesse festejar o desastre do PS teme que o processo também lhe acerte em cheio.

No meio há o Bloco Central. Não o ideológico, ou não só o ideológico, mas sobretudo o táctico, o que vive da supremacia do político sobre todos os outros poderes. E esse já compreendeu que está em causa "o sistema", o mesmo "sistema" de que o doutor Soares se acha legítimo pai e defensor.

Tudo o resto tem sido um circo inominável. Grita-se contra a violação do segredo de justiça, e viola-se o dito sem pudor. Reclama-se silêncio e fala-se de seguida. Foi-se contra Portas por causa de uma insinuação e defende-se Pedroso apesar de indiciado. E por aí fora.

Nestes dias que correm até ao fim de Janeiro há poucas perguntas essenciais que possam ter resposta. Mesmo assim, uma delas é: quem é o primeiro a pedir, descaradamente, a demissão de Souto Moura. Até que a acusação seja deduzida - então falamos - pedir a demissão do PGR ( ou forçá-la) é a maior de todas as interferências no processo. Quem se atreve?

Vargas Llosa

De vez em quando, mesmo sem que os jornalistas se esforcem, há boas razões para ficar uma hora a ver televisão. Quinta-feira passada, a entrevista - melhor seria dizer o que Vargas Llosa disse, independentemente da senhora que estava do outro lado da mesa - de Vargas Llosa, foi um desses momentos, cada vez mais raros. O homem, porque é inteligente e honesto, tranquilo na voz, demorado a pensar e fascinante nas respostas, é admirável. O que disse sobre as utopias, sobre as verdades absolutas, sobre os destinos individuais e os pesadelos colectivos, sobre o Iraque. Mas, sobretudo, pela enorme honestidade intelectual e sobriedade. E, também, porque fiquei com saudades de Cardoso Pires.

Não é estar de acordo, é ser provocado para pensar que me entusiasma. Sim, é isso.

Tuesday, October 21, 2003

Memória

Alguém se quer dar ao incómodo de fazer duas ou três coisas?

a) Recordar as insinuações sobre a actuação do Governo no caso Moderna e o que diziam os que agora se atiram ao Ministério Público? E o que não disseram quando foi divulgado, muitos anos antes, "o documento" do SIS sobre a Moderna.

b) Imaginar o que seria se o Líder parlamentar do PP tivesse feito um terço dos telefonemas por causa de Portas e da Moderna?

c) Explicar porque é que o Dr. Ferro umas vezes se está "cagando para o segredo de Justiça" e outras não

Tuesday, October 14, 2003

Ao menos os pés andam sempre aos pares. Mesmo quando fogem.

À espera

Da hora certa. Do tempo. Para ti. Do tempo para mim. Da decisão. Do começo. De tudo. De nada. Do que vier. Isto passa. Já passou. Passatempo. Não passa nem mais um dia. À espera. Do fim.

A vitória do facilitismo

Ler o regulamento do Big Brother, fazer "testenovelas" e frequentar a Universidade sem pagar propinas. É o ensino e o Fácil venceu. Só estranho a surpresa, as consequências não.

Monday, October 13, 2003

Agora a sério.

A felicidade que a libertação do Dr. Pedroso possa gerar entre os amigos é perfeitamente legítima. A mim não me alegra nem entristece, mas isso é porque não conhecendo o cavalheiro e desconhecendo a investigação, não alimento estados de alma sobre o destino dos arguidos do processo Casa Pia. Quero, prosaicamente, que os culpados sejam condenados, os inocentes absolvidos e ponto final.

Mas a reacção política dos companheiros do Dr. Pedroso, essa já me incomoda.
Convinha recordar que o senhor é arguido num processo e não um mártir da revolução. Era benéfico lembrar que quando o PP organizou uma liturgia pública durante o processo Moderna - em que o Dr. Portas era testemunha - o País que opina declarou, com razão, que aquilo era um disparate e uma pressão. Ainda que modesta, convenhamos.
Por último, alguém devia ter o bom senso, lá no PS, de perceber que quando se tenta confundir um inquérito judicial com Ministério Público e Juízes e uma notícia onde se referem uns boatos a falta de honestidade intelectual é tão evidente que fere.

Agora a sério, todas estas cenas são indecorosas e o PS perdeu qualquer relação inteligível com a realidade. E isso é mau.

Onde é que eu já vi isto?

O homem sai da prisão e é recebido em euforia pelos seus companheiros políticos. Gritam-se vivas à liberdade, invade-se um palácio e destroem-se móveis do século XIX.

Onde é que eu já vi isto?

Wednesday, October 08, 2003

Autismo

Para lá das questões éticas e políticas, há um claro autismo no governo quando age como agiu nesta
"crise" interna.

Até segunda feira o Governo não pretendia que houvesse nenhuma remodelação no MNE. Terça feira o MNE demitiu-se. Desde há vários dias que se sabia que esta questão estava a ser procurada pelos jornalistas. E desde Quinta-feira que se sabia publicamente que este tema estava a ter visível impacto.

O que levou, então, o PM e o Governo a não remodelar o MNE até segunda, e a ter de o fazer na terça, com notório prejuízo para a imagem?

Só encontro uma explicação. Ou duas. Ambas más.
Ou o Governo achou que a segunda parte da história, que acabou por se saber na terça, não ia ser descoberta. Ou achou que o País não se importava assim tanto com o assunto.

Em qualquer dos casos, revela autismo. Em relação ao País e em relação à comunicação social.
Dois erros de avaliação crassos. Isolados, espera-se.

Tuesday, October 07, 2003

E a filha do Ministro, é boa ou não? A TVI não investiga?

Monday, October 06, 2003

O meu maço de tabaco de hoje diz: "Fumar prejudica o esperma e reduz a fertilidade".

Prefiro os do cancro.