O
Mestre de Aviz já falou disso, dos sinais de regresso do Bloco Central na história da Casa Pia. E eu acompanho-o. Ou melhor, acho que os sinais não são de agora, são do começo do Verão, quando o velho doutor Soares percebeu o que estava em causa. O político mais experimentado percebeu que estava em causa o sistema - como gostam de dizer.
Em Junho, ou Julho, Soares andou a berrar que isto era pior do que na ditadura. Claro que não é. Mas há uma razão para Soares reagir assim. Seja Pedroso inocente ou culpado, o que para o velho doutor Soares interessa é que um político foi, de facto, sujeito ao poder dos juízes, a separação de poderes funcionou, o poder do político não. E, quando o que está em causa é o poder de quem faz política, Soares sabe sempre de que lado está: do lado de Beleza, de Craxi, ou de Melancia, tanto faz.
Soares, como sempre, percebeu antes de todos.
O processo Casa Pia é incompreensível por agora. Querer ter opiniões definitivas é mais do que insensato, é um disparate completo, é alinhar com as certezas parciais de cada parte, que com zelo os diferentes jornais e televisões vão revelando, conforme o lado que tomaram neste conflito.
Sim, disso não haja dúvidas, o que está em causa, pelo menos por agora, é um conflicto entre poderes, entre jornais, entre lados diferentes da sociedade. A esquerda uniu-se a Pedroso e, mesmo quando não intencionalmente, contra a Procuradoria. A direita silenciou-se, mesmo que quisesse festejar o desastre do PS teme que o processo também lhe acerte em cheio.
No meio há o Bloco Central. Não o ideológico, ou não só o ideológico, mas sobretudo o táctico, o que vive da supremacia do político sobre todos os outros poderes. E esse já compreendeu que está em causa "o sistema", o mesmo "sistema" de que o doutor Soares se acha legítimo pai e defensor.
Tudo o resto tem sido um circo inominável. Grita-se contra a violação do segredo de justiça, e viola-se o dito sem pudor. Reclama-se silêncio e fala-se de seguida. Foi-se contra Portas por causa de uma insinuação e defende-se Pedroso apesar de indiciado. E por aí fora.
Nestes dias que correm até ao fim de Janeiro há poucas perguntas essenciais que possam ter resposta. Mesmo assim, uma delas é: quem é o primeiro a pedir, descaradamente, a demissão de Souto Moura. Até que a acusação seja deduzida - então falamos - pedir a demissão do PGR ( ou forçá-la) é a maior de todas as interferências no processo. Quem se atreve?