Eu não sou europeu
Os atentados de Madrid são intrinsecamente maus, instrinsecamente injustificáveis e intrinsecamente incompreensíveis. Tenham sido da ETA, da Al-Qaeeda ou de ambas.
Saber quem os cometeu interessa para avaliar os riscos, para conhecer os perigos, para saber como agir e contra quem. Mas saber quem os cometeu é irrelevante para a sua valoração.
Os atentados de Madrid não são maus se tiverem sido efectuados pela ETA, ou culpa do governo espanhol se tiverem sido executados pelos terroristas islâmicos. Admitir esta dicotomia é admitir que há um terrorismo que tem uma razão de ser. O que, para além de ser um erro de análise, é quase tão terrível como os próprios atentados.
Se foi a ETA, é uma resposta à forma dura como o governo espanhol actuou com os etarras nos últimos anos. Serão, por isso, uma prova de que a política seguida estava errada? Não. São a prova de que a lógica dos terroristas não é passível de diálogo. A menos, claro, que se prefira a negociação e a cobardia.
E se tiver sido Bin Laden e companhia? É uma reposta à participação espanhola na intervenção no Iraque? Será, mas a conclusão é exactamente a mesma. Se assim for, isso só prova duas coisas: que eles respondem a quem os fere, e que quem não quer correr o risco de ser atacado deve ficar quieto. Mas essa política tem um nome: cobardia. Ou, mais exacatamente, é o elogio da cedência à lógica do medo e do terror. Hoje proibimo-nos de intervir no Iraque, amanhã recusamos agir se houver um massacre no país que ficar ao nosso lado. Depois de amanhã cederemos o que for necessário, se formos ameaçados.
É por isso que as manifestações de hoje em Madrid revelam o pior que a Europa tem. Os manifestantes que hoje se concentraram em frente das sedes do PP - obviamente organizados - têm um discurso: é o do triunfo da chantagem e o seu elogio.
A 11 de Setembro de 2001 não houve uma única manifestação em toda a América onde se dissesse o que hoje se disse em Madrid - e em Lisboa e por essa Europa fora.
A 11 de Setembro de 2001 os americanos sabiam que tinham sido atacados, e que a responsabilidade era exclusivamente de quem tinha atacado, de mais ninguém, porque não há terrorismo que se possa compreender.
As manifestações de 13 de Março em Madrid são o oposto. O que eles querem saber é quem foi, não para saber quem são os inimigos, mas para decidir se a culpa é do governo ou não. Porque eles acham que se tiver sido uma acção dos terroristas islâmicos é porque o governo espanhol "estava mesmo a pedi-las", tal e qual como disseram a 13 de Setembro de 2001, quando já não éramos todos americanos.
É por isso, porque o terrorismo é intrinsecamente injustificavável, e a Europa intrinsecamente cobarde, que eu não sou europeu. Pelo menos hoje.
Saber quem os cometeu interessa para avaliar os riscos, para conhecer os perigos, para saber como agir e contra quem. Mas saber quem os cometeu é irrelevante para a sua valoração.
Os atentados de Madrid não são maus se tiverem sido efectuados pela ETA, ou culpa do governo espanhol se tiverem sido executados pelos terroristas islâmicos. Admitir esta dicotomia é admitir que há um terrorismo que tem uma razão de ser. O que, para além de ser um erro de análise, é quase tão terrível como os próprios atentados.
Se foi a ETA, é uma resposta à forma dura como o governo espanhol actuou com os etarras nos últimos anos. Serão, por isso, uma prova de que a política seguida estava errada? Não. São a prova de que a lógica dos terroristas não é passível de diálogo. A menos, claro, que se prefira a negociação e a cobardia.
E se tiver sido Bin Laden e companhia? É uma reposta à participação espanhola na intervenção no Iraque? Será, mas a conclusão é exactamente a mesma. Se assim for, isso só prova duas coisas: que eles respondem a quem os fere, e que quem não quer correr o risco de ser atacado deve ficar quieto. Mas essa política tem um nome: cobardia. Ou, mais exacatamente, é o elogio da cedência à lógica do medo e do terror. Hoje proibimo-nos de intervir no Iraque, amanhã recusamos agir se houver um massacre no país que ficar ao nosso lado. Depois de amanhã cederemos o que for necessário, se formos ameaçados.
É por isso que as manifestações de hoje em Madrid revelam o pior que a Europa tem. Os manifestantes que hoje se concentraram em frente das sedes do PP - obviamente organizados - têm um discurso: é o do triunfo da chantagem e o seu elogio.
A 11 de Setembro de 2001 não houve uma única manifestação em toda a América onde se dissesse o que hoje se disse em Madrid - e em Lisboa e por essa Europa fora.
A 11 de Setembro de 2001 os americanos sabiam que tinham sido atacados, e que a responsabilidade era exclusivamente de quem tinha atacado, de mais ninguém, porque não há terrorismo que se possa compreender.
As manifestações de 13 de Março em Madrid são o oposto. O que eles querem saber é quem foi, não para saber quem são os inimigos, mas para decidir se a culpa é do governo ou não. Porque eles acham que se tiver sido uma acção dos terroristas islâmicos é porque o governo espanhol "estava mesmo a pedi-las", tal e qual como disseram a 13 de Setembro de 2001, quando já não éramos todos americanos.
É por isso, porque o terrorismo é intrinsecamente injustificavável, e a Europa intrinsecamente cobarde, que eu não sou europeu. Pelo menos hoje.