Tuesday, April 26, 2005
O Francisco Mendes da Silva, que escreve francamente bem, pelos vistos não viu Amsterdam. Pena. Há muito mais que sexo e drogas em Amsterdam. Tanto mais e tão tranquilamente que só assim é que o "sex, drugs e djambé" pode existir. É como se no meio da Europa houvesse um pouco de Nova York.
Monday, April 25, 2005
A posteriori tudo é simples
O desafio do CDS de Ribeiro e Castro é fácil de enunciar:
Fazer partido, não se deixar acantonar, saber comunicar sem perder a postura não dobrada ao mediatismo, e conseguir interessar e interessar-se pelo que se passa fora do partido e dos partidos.
Fácil de enunciar, não fácil de fazer.
E claro, a paz interna, mas isso é mais uma questão de inteligência e bom senso das partes.
Fazer partido, não se deixar acantonar, saber comunicar sem perder a postura não dobrada ao mediatismo, e conseguir interessar e interessar-se pelo que se passa fora do partido e dos partidos.
Fácil de enunciar, não fácil de fazer.
E claro, a paz interna, mas isso é mais uma questão de inteligência e bom senso das partes.
Surpresas Castelhanas
A TVE, pelo menos a internacional, exibe a esta hora o filme de Maria de Medeiros sobre o 25 de Abril. Surpreendidos? Eu estou.
Reencontros
Apesar de evidentes diferenças de opinião, de visão, de tanta coisa, tenho uma sincera estima pela livre solidão do Prof. Adelino Maltez.
Vem isto a propósito há dias o ter reencontrado aqui.
Vem isto a propósito há dias o ter reencontrado aqui.
Dar-me música
Sabemos a que geração pertencemos quando ouvimos as diferentes décadas musicais na Cotonete. Pois, oitentas, lá terá de ser.
Friday, April 22, 2005
Emigração
Sempre me incomodou em muita direita e em grande parte do país a visão reduzida e redutora sobre a emigração, algures entre o medo ao desconhecido, o medo de perder o trabalhinho e, sobretudo, um ridículo sentimento de violação da Pátria por cada vez que um estrangeiro abre um restaurante ou lhes responde à mesa do café num sotaque eslavo. É por isso que posts como este me agradam. À direita há mais e melhor.
Thursday, April 21, 2005
De costas
Vejo na RTPi a votação sobre o aborto na AR e os Deputados do CDS aparecem-me de costas. Concordo com o voto e nem duvido da sinceridade da maioria. Mas há um ou dois que assim, de costas, são mais eloquentes. Salvam vidas em abstracto, não se importam com vidas concretas. E bem próximas.
Talvez me falte cumplicidade, mas há ali a quem falte integridade. Ou apenas carácter.
Talvez me falte cumplicidade, mas há ali a quem falte integridade. Ou apenas carácter.
"Realgrading"
O tempo não torna os humanos mais bonitos, mas torna as nossas expectativas mais humanas.
Wednesday, April 20, 2005
A diferença entre o humor e a estupidez
Por um Acidental descubro as melhores piadas sobre o novo Papa. A inteligência é, de facto, um privilégio.
Emigrante deslumbrado
À porta de casa há um paquistanês tranquilo que vende whisky - normalmente manhoso - até de madrugada. Há virtudes que a Avenida de Roma não tem.
Maus caminhos
Alguma Europa - a que manifestamente não aprecia o cavalheiro - discute umas férias de Barroso a bordo de um iate grego. Trocámos a exigência intelectual pela vigilância semi-ética. Vamos continuar a perder.
Razingar
Compreendo a excitação dos que não acreditam, um poder a que se obedece voluntariamente incomoda. Mas os crentes não deviam sê-lo?
Excessivo
Que todos nós sejamos, na bancada, treinadores, primeiros-ministros, ministros, deputados, líderes em geral, empresários e pontas-de-lança do Benfica, vá que não vá. Mas Papa? Não haverá um certo exagero em tanta opinião pessoal?
Português suave
Enquanto isso, numa pastelaria da Madragoa alguém acende um cigarro. Há fumo azul.
Habemus Telmum.
O empregado de mesa aproxima-se.
Para mim era um èclair e uma bica. E mais um maço de ventil.
Habemus Telmum.
O empregado de mesa aproxima-se.
Para mim era um èclair e uma bica. E mais um maço de ventil.
Tuesday, April 19, 2005
Quem manda? Quem sabe?
Pelos vistos foi notada a incoerência entre o ex-prof Freitas do Amaral agora MNE e o não-sei-se-eng PM sobre as prioridades de política externa portuguesa. Segundo o DD o MNE explicou que o Sr. PM não sabia exactamente o que estava a dizer. Ou que disse aquilo só para impressionar. Bons começos, sem dúvida.
Excitações
Como qualquer um, olho para a eleição do novo Papa e penso no assunto, mas a ideia de debater os resultados de um conclave de Cardeais com o rigor do forum TSF e a excitação dos comentadores do congresso PSD incomoda-me.
Há demasiada excitação no ar, demasiada vontade de dizer coisas, uma ridícula competição pela primeira melhor frase sobre o assunto.
Nem tudo é assim tão banal.
Há demasiada excitação no ar, demasiada vontade de dizer coisas, uma ridícula competição pela primeira melhor frase sobre o assunto.
Nem tudo é assim tão banal.
Sunday, April 17, 2005
Informações inúteis
Numa qualquer programa da TF1 descubro que Richard Cleiderman está vivo e continua louro. Dispensava.
Feridas que não temos
Passaram sexta-feira sessenta anos sobre a libertação do campo de concentração de Bergen-Belzen, na Alemanha. O mesmo onde morreu Anne Frank. Nos telejornais do meio da Europa o facto tem o destaque previsível. No noticíario da RTP não encontrei uma palavra. Compreendo. Há feridas que não temos. Mas também por isso às vezes percebemos menos o mundo.
Friday, April 15, 2005
A direita antes de O Acidental
Só para me confirmar, aqui reproduzo um post meu 13 de Julho de 2003.
"impressiono-me
com facilidade, se calhar. Já circulei e descobri que haverá 900 blogs portugueses, mas são sempre os mesmo 20 que reencontro. Talvez não seja mau. Bom sinal é o que encontro à direita. Na Blogosfera a direita soube chegar primeiro e assumir o espaço da liberdade. Por uma vez a direita portguesa não se esconde, não se envergonha e - melhor que tudo - não envergonha quem a lê. Escreve com inteligência e humor (se já soubesse fazer links para os que tenho gostado, fazia) e com doses bem razoáveis de cultura. Eu sabia que eles existiam, só que quase nunca os encontrava. Aqui estão. Ainda bem
posted by HB at 3:00 PM "
Sem que daí resulte alguma falta de reconhecimento ao Blog do Paulo e convidados. Muito pelo contrário. Já é um vício lê-lo
"impressiono-me
com facilidade, se calhar. Já circulei e descobri que haverá 900 blogs portugueses, mas são sempre os mesmo 20 que reencontro. Talvez não seja mau. Bom sinal é o que encontro à direita. Na Blogosfera a direita soube chegar primeiro e assumir o espaço da liberdade. Por uma vez a direita portguesa não se esconde, não se envergonha e - melhor que tudo - não envergonha quem a lê. Escreve com inteligência e humor (se já soubesse fazer links para os que tenho gostado, fazia) e com doses bem razoáveis de cultura. Eu sabia que eles existiam, só que quase nunca os encontrava. Aqui estão. Ainda bem
posted by HB at 3:00 PM "
Sem que daí resulte alguma falta de reconhecimento ao Blog do Paulo e convidados. Muito pelo contrário. Já é um vício lê-lo
Atrasado
Chego atrasado - nada de novo - à Mão Invisível e insisto na minha tese: há muito mais para ler na net do que na imprensa. E esta malta que gosta de invocar enormes divisões doutrinárias lá se vai entendendo, a benefício da leitura.
Bem me parecia
O Pedro Almeida Vieira, um ambientalista sensato e um jornalista sério (daqueles que quando escreve que alguma coisa é y vírgula 625 é porque é exactamente assim) tem um blog com um nome de que gosto muito por razões que já lá vão. Um abraço ao PAV.
A literatura humana
Paul Auster, que é um dos meus (e de várias dúzias de milhares - nada original, portanto) escritores preferidos, em "Pensei que o meu pai era Deus" prova que é um magnífico leitor. Uma a uma, as histórias que escolheu editar, a partir de cartas enviadas por ouvintes do seu programa de rádio, são um dos melhores retratos dessa América que fica muito para lá de Nova York (eu continuarei a escrever assim), do cinema, da política e da guerra. Mais do que as coincidências improváveis, o que prende é essa prova evidente de que a vida é muito maior do que a nossa vida. E muito mais interessante.
Intimidades
Em processo de arrumação da curta prateleira cá de casa, descubro dois livros repetidos. Antigamente irritavam-me estas ofertas repetitivas, agora gosto. São sintomas de intimidade.
Thursday, April 14, 2005
A prósito da nossa pré-história
Volta e meia ando por aqui (não por aí, como os outros) a ver velhos favorites e descubro que muitos encerraram o blog. Até no abstracto pode haver perda.
Pré-história dos blogs
O Paulo Mascarenhas, que está de parabéns por causa do livro que publicaram - e que me há-de enviar, que um homem emigra, não vai todos os dias à Pátria, e gosta de notícias - diz, a propósito do aniversário do Acidental (já fiz um link lá em cima, não faço outro que isto em casa dá mais trabalho), que há um ano a direita era minoritária na Blogosfera.
Não sou contabilista de ideologias, nem domino os blogs todos, mas tenho perfeita noção de que o Paulo errou. Pelo menos não acertou no mais significativo. Uma das maiores surpresas de quem aqui chegou há dois anos ou mais foi, exactamente, descobrir que havia um número enorme de gente a escrever fora dos parâmetros e da agenda da esquerda. Alguns nem seriam exactamente de direita, mas estavam claramente desalinhados com a paisagem dominante na comunicação social. Foi essa, ideologicamente falando, uma das maiores virtudes - e surpresas - dos blogues. E houve outras.
Não sou contabilista de ideologias, nem domino os blogs todos, mas tenho perfeita noção de que o Paulo errou. Pelo menos não acertou no mais significativo. Uma das maiores surpresas de quem aqui chegou há dois anos ou mais foi, exactamente, descobrir que havia um número enorme de gente a escrever fora dos parâmetros e da agenda da esquerda. Alguns nem seriam exactamente de direita, mas estavam claramente desalinhados com a paisagem dominante na comunicação social. Foi essa, ideologicamente falando, uma das maiores virtudes - e surpresas - dos blogues. E houve outras.
Wednesday, April 13, 2005
Tuesday, April 12, 2005
A direita deve queixar-se de si? Claro.
Em comentário a alguns posts meus recentes sobre a direita o epicurista Pedro Sanches - até a simpatia por Epicuro nos aproxima - diz que a direita é culpada do seu próprio acantonamento. Concordo, mas não completamente.
Se o Pedro reparar, eu tenho dito isso mesmo, tenho dito que a direita deixou-se acantonar, e se digo deixou é porque acho que tem responsabilidades nesse processo - por omissão e por acção. Mas, sem querer entrar em questões que às vezes são quase pessoais, o que me interessa é saber se há ou não uma direita democrática que não pode ser assim acantonada. Há. E interessa-me saber saber se essa direita tem expressão e vontade de se exprimir. Tem, mas precisa de fazer por ter mais.
O Pedro tem razão, mas não tem toda. Acho eu, claro. E dizer que a falta de visibilidade desta direita de que falamos é apenas culpa sua é perder de vista uma parte substancial do problema.
Se o Pedro reparar, eu tenho dito isso mesmo, tenho dito que a direita deixou-se acantonar, e se digo deixou é porque acho que tem responsabilidades nesse processo - por omissão e por acção. Mas, sem querer entrar em questões que às vezes são quase pessoais, o que me interessa é saber se há ou não uma direita democrática que não pode ser assim acantonada. Há. E interessa-me saber saber se essa direita tem expressão e vontade de se exprimir. Tem, mas precisa de fazer por ter mais.
O Pedro tem razão, mas não tem toda. Acho eu, claro. E dizer que a falta de visibilidade desta direita de que falamos é apenas culpa sua é perder de vista uma parte substancial do problema.
The Economist também. Mas não só
O Pedro Mexia diz que a Economist o define ideologicamente. Também a mim. Quase, porque quando se fala de Israel não é ali que me encontro. Não só nesse caso, mas sobretudo.
Mas sim, em caso de dúvida, na maior parte das vezes é lá que encontro as melhores respostas. E daqui se conclui que muita desta divisão liberal, conservador, democrata-cristão que se faz à direita tem uma boa dose de artificialidade. As questões práticas nem sempre se respondem só com doutrina e valores. Mas sem eles somos mais um bando de relativistas à deriva.
Mas sim, em caso de dúvida, na maior parte das vezes é lá que encontro as melhores respostas. E daqui se conclui que muita desta divisão liberal, conservador, democrata-cristão que se faz à direita tem uma boa dose de artificialidade. As questões práticas nem sempre se respondem só com doutrina e valores. Mas sem eles somos mais um bando de relativistas à deriva.
El tio no sabe lo que dice
Segundo os jornais, o engenheiro Sócrates declarou que a prioridade portuguesa em matéria de Política Externa era "Espanha, Espanha, Espanha".
Pelo contrário, no "discurso de apresentação do capítulo sobre Política Externa, proferido na Assembleia da República pelo Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Prof. Doutor Diogo Freitas do Amaral, no debate parlamentar sobre o Programa do XVII Governo Constitucional" - procure-se no site do governo que foi lá que o encontrei - , por mais buscas que se façam, não há uma única vez a palavra Espanha.
Pelos vistos a vaidade não é garantia de competência.
Pelo contrário, no "discurso de apresentação do capítulo sobre Política Externa, proferido na Assembleia da República pelo Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Prof. Doutor Diogo Freitas do Amaral, no debate parlamentar sobre o Programa do XVII Governo Constitucional" - procure-se no site do governo que foi lá que o encontrei - , por mais buscas que se façam, não há uma única vez a palavra Espanha.
Pelos vistos a vaidade não é garantia de competência.
Por isso é que eu gosto deles.
O Acidental faz um ano. Só por isso, podia dar-lhes os parabéns. Mas é por serem um blog de direita sem polícias de opinião que eu mais gosto deles. Por isso e pelo que leio. E, com a devida vénia aos outros todos (sincera, sincera), segue um postabraço para PPM.E depois manda o livro, se faz favor.
Haverá amor na Blogosfera?
Sim, eu sei que estive em Portugal, e até me ofereceram um exemplar, mas não o trouxe e gostava de ter. Por isso, será que alguém me envia a Atlântico? Rue Americaine, 85, 1er, 1050 Bruxelles.He he
Monday, April 11, 2005
Tentativas frustradas
E já lá vão três tristes tentativas de dar os parabéns ao Acidental.Haverá uma euroconspiração contra o elogio?
Thursday, April 07, 2005
Eu, que sou Católico à minha maneira
Às vezes, quando não percebo onde está Deus, quando me sinto abandonado por Ele, recordo estes versos:
Nunca te deixaria só
Principalmente nos momentos mais difícies
Quando viste na areia apenas um par de pegadas
Foi quando eu te peguei ao colo.
Nunca te deixaria só
Principalmente nos momentos mais difícies
Quando viste na areia apenas um par de pegadas
Foi quando eu te peguei ao colo.
Bruxelas
Numa terra onde o céu
muitas vezes se confunde com o chão cinzento,
algumas árvores florescem ao contrário.
muitas vezes se confunde com o chão cinzento,
algumas árvores florescem ao contrário.
Desilusões permanentes
A maior parte dos jovens com sucesso quer ser o que ainda não é e lamenta ser recordada pelo que foi. É pena. Ou melhor, é triste.
Wednesday, April 06, 2005
Cavaco: da direita, não de direita.
Nas próximas eleições presidenciais a direita começa de facto a ter uma hipótese credível - mais por falta de comparência competitiva do que pela tese dos cestos, dos ovos, das galinhas e mais não sei o quê: falta ter sido eleito um presidente de direita para demonstrar essa tese.
Cavaco, de facto, não é de direita, genuinamente não é. Dificilmente se pode identificar o cavaquismo com verdadeiro liberalismo, com conservadorismo (limitador da interferência do Estado na vida da comunidade), ou com Democracia-cristâ. Curiosamente o PSD não se reclama de nenhuma visão de centro-direita, ainda que seja assim entendido.
Bom, mas se Cavaco não será de Direita, é claramente o candidato da Direita. Impõe-se, pois, algum pragmatismo. O homem que vá buscar votos ao centro, mas a Direita que não lhe regateie apoios. Mesmo se cada vez que aparece aquela figura cada vez mais parecida com a sua personagem no Contra-informação a vontade de lhe votar diminua.
Eu voto no homem. Desconfortável, mas voto.
Ah, e se for Marcelo?
Bom, nesse caso, se o Alegre prometesse só declamar...
Maldita auto-fagia.
Cavaco, de facto, não é de direita, genuinamente não é. Dificilmente se pode identificar o cavaquismo com verdadeiro liberalismo, com conservadorismo (limitador da interferência do Estado na vida da comunidade), ou com Democracia-cristâ. Curiosamente o PSD não se reclama de nenhuma visão de centro-direita, ainda que seja assim entendido.
Bom, mas se Cavaco não será de Direita, é claramente o candidato da Direita. Impõe-se, pois, algum pragmatismo. O homem que vá buscar votos ao centro, mas a Direita que não lhe regateie apoios. Mesmo se cada vez que aparece aquela figura cada vez mais parecida com a sua personagem no Contra-informação a vontade de lhe votar diminua.
Eu voto no homem. Desconfortável, mas voto.
Ah, e se for Marcelo?
Bom, nesse caso, se o Alegre prometesse só declamar...
Maldita auto-fagia.
O segredo do sucesso? Se calhar.
Em conversa, não sobre os meus posts mas sobre o seu conteúdo, alguém que respeito e pensa bem diz que o segredo de um eventual sucesso do CDS é simples de enunciar: provar ao País que é responsável, que tem bons quadros, que é tranquilo, fiável e responsável na governação. Isso, mais do que doses de doutrina e ideologia. Admito que sim. Não sou estratega da coisa, limito-me a falar de como gostava de me ver representado. Ainda assim, mantenho, uma dose coerente de valores e propostas pode ser a diferença que justifique o voto.
A diferença entre facto e a exploração das emoções
Incomodado com os comentários do Vasco Lobo Xavier, o João Pedro Henrique, que gosta de provocar, devia tentar perceber a diferença entre um facto, a sua exploração e a exploração das emoções.
O facto é que o Papa morreu, e que nunca deixou de exibir o seu sofrimento - com azar o JPH acha que isso foi uma estratégia mediática, outros acham mais prosaicamente que foi uma forma de nos recordar que o sofrimento existe -. Exploração é quando a comunicação social repete incessantemente o momento da morte, o último momento, pergunta "como se sente", faz directo histéricos sem conteúdo e muita emoção. Não foi isso que aconteceu. Maioritariamente não foi.
Há uma enorme parte do mundo que acompanhou de perto o estado de saúde do Papa, que se preocupava pelo seu destino, um sentimento mais nobre do que o voyeurismo de ver corpos arrastados por ondas gigantes, tentativas de resgate junto a uma ponte caída ou simples directos de entradas e saídas de julgamentos. Por muito estranho que a alguns pareça, há uma multidão de gente que segue com a dor dos próximos a morte de um exemplo. João Pedro, há coisas simples. Quanto ao mais, meu caro, espreita a CNN, e verás que se fala de tudo, da história do Papa, das suas controvérsias, mas não se perde a objectividade: os sentimentos de reconhecimento pela grandeza do Papa são enormes. A objectividade não é procurar sempre uma versão alternativa, é procurar contar as coisas tal com elas são. Parece simples, mas de facto não é.
De resto, parece haver um incómodo inconfessável: a existéncia de uma autoridade moral voluntariamente aceite. É esse o enigma da religião nos tempos modernos.
O facto é que o Papa morreu, e que nunca deixou de exibir o seu sofrimento - com azar o JPH acha que isso foi uma estratégia mediática, outros acham mais prosaicamente que foi uma forma de nos recordar que o sofrimento existe -. Exploração é quando a comunicação social repete incessantemente o momento da morte, o último momento, pergunta "como se sente", faz directo histéricos sem conteúdo e muita emoção. Não foi isso que aconteceu. Maioritariamente não foi.
Há uma enorme parte do mundo que acompanhou de perto o estado de saúde do Papa, que se preocupava pelo seu destino, um sentimento mais nobre do que o voyeurismo de ver corpos arrastados por ondas gigantes, tentativas de resgate junto a uma ponte caída ou simples directos de entradas e saídas de julgamentos. Por muito estranho que a alguns pareça, há uma multidão de gente que segue com a dor dos próximos a morte de um exemplo. João Pedro, há coisas simples. Quanto ao mais, meu caro, espreita a CNN, e verás que se fala de tudo, da história do Papa, das suas controvérsias, mas não se perde a objectividade: os sentimentos de reconhecimento pela grandeza do Papa são enormes. A objectividade não é procurar sempre uma versão alternativa, é procurar contar as coisas tal com elas são. Parece simples, mas de facto não é.
De resto, parece haver um incómodo inconfessável: a existéncia de uma autoridade moral voluntariamente aceite. É esse o enigma da religião nos tempos modernos.
Tuesday, April 05, 2005
Duas de seguida. Os liberais, os conservadores e a direita pós 25/A
No Acidental fazem-se duas referências ao meu post sobre a direita, sendo que o que o Paulo Mascarenhas diz pede uma resposta.
Também eu, Paulo, concordo com praticamente tudo o que escreves. De resto, tem graça fazeres a referência que fazes. É que a minha "mais velha tese de Mestrado da história" é exacatmente sobre como partindo dos escritos de Michael Oakeshot (junta a esse o Rationalism in Politics) se pode defende haver uma coerência entre o liberalismo(continetal)e o conservadorismo. Provavelmente não entre todas as modalidades de conservadorismo e de liberalismo, mas Hayek, que escreveu "Why I´m not a conservative" provavelmente teria de reescrever esse texto se lesse com atenção Oakeshot.
Isto para dizer, sim, eu sou dos que acham que o conservadorismo e o liberalismo não são incompatíveis, muito pelo contrário.
Já quanto à memória do PREC, e menos especificamente quanto às tuas memórias do PREC, insisto. A direita que hoje se pode considerar moderna (a responsabilidade pelo termo é minha, mas não me sai mais eficiente) dificilmente encontra na direita anterior ao 25 de Abril uma linha de identidade. Por mais que o que dizes, e que o que o Rui Ramos escreve, seja verdade.
A questão, como a entendo, é outra. A direita que nasceu, sobretudo que cresceu depois do 25 de Abril, tem necessariamente outras referências e tem - e essa é uma das suas maiores vantagens - uma liberdade maior porque não é herdadeira de um antigo regime, é herdadeira de um passado já em liberdae, e isso parece-me essencial reconhecer se se quer entender o que de novo se poderá estar a passar. E note-se que não estou a falar de uma herenaça voluntária, mas sim de um constrangimento involuntário.
De resto, o Paulo tem de novo razão quando fala da autofagia da direita. Isso, por si só, dava um estudo. Não basta um post.
Também eu, Paulo, concordo com praticamente tudo o que escreves. De resto, tem graça fazeres a referência que fazes. É que a minha "mais velha tese de Mestrado da história" é exacatmente sobre como partindo dos escritos de Michael Oakeshot (junta a esse o Rationalism in Politics) se pode defende haver uma coerência entre o liberalismo(continetal)e o conservadorismo. Provavelmente não entre todas as modalidades de conservadorismo e de liberalismo, mas Hayek, que escreveu "Why I´m not a conservative" provavelmente teria de reescrever esse texto se lesse com atenção Oakeshot.
Isto para dizer, sim, eu sou dos que acham que o conservadorismo e o liberalismo não são incompatíveis, muito pelo contrário.
Já quanto à memória do PREC, e menos especificamente quanto às tuas memórias do PREC, insisto. A direita que hoje se pode considerar moderna (a responsabilidade pelo termo é minha, mas não me sai mais eficiente) dificilmente encontra na direita anterior ao 25 de Abril uma linha de identidade. Por mais que o que dizes, e que o que o Rui Ramos escreve, seja verdade.
A questão, como a entendo, é outra. A direita que nasceu, sobretudo que cresceu depois do 25 de Abril, tem necessariamente outras referências e tem - e essa é uma das suas maiores vantagens - uma liberdade maior porque não é herdadeira de um antigo regime, é herdadeira de um passado já em liberdae, e isso parece-me essencial reconhecer se se quer entender o que de novo se poderá estar a passar. E note-se que não estou a falar de uma herenaça voluntária, mas sim de um constrangimento involuntário.
De resto, o Paulo tem de novo razão quando fala da autofagia da direita. Isso, por si só, dava um estudo. Não basta um post.
Monday, April 04, 2005
Pronto, já está
Tal como os acidentais , os imperiais, os marinheiros, os fugas, e mais un quantos, agora fui eu. Já está, o post que se segue (visualmente) / que se seguiu (cronologicamente) é o meu contributo para a discussão sobre o destino da direita.
A Direita moderna
Nas últimas semanas o destino da Direita portuguesa tem sido motivo de discussão, debate e alguma introspecção. Também eu – que faço parte desse espaço – tenho a minha reflexão sobre o tema.
A minha tese é esta, e não sendo uma moção, é longa para um post, mas cá vai:
Apesar de admitir que o CDS podia já não fazer sentido, a verdade é que o debate sobre o destino da direita ideológica se faz a partir do Congresso do CDS e não do Congresso do PSD, o que não deixa de ser curioso e de poder querer dizer que um partido à direita do PSD pode ter utilidade e sentido. E não apenas para o PSD ou para o PS, conforme é hábito alguns tácticos defenderem.
No entanto, acredito que não há, não deve haver, e espero bem que não haja a tentação de fazer uma qualquer refundação da direita. A Direita que temos, e que podemos ter, não precisa de se libertar de uma qualquer tralha passada, precisa sobretudo de integrar o que há de novo, e isso não é refundar, é aglomerar. E eventualmente repensar.
E, nesse contexto, faz sentido perceber que eleitoralmente e a nível de quadros há uma nova geração, amplamente entendida, que não tem memória sequer do PREC, quanto mais do 25 de Abril. Perceber isso, e integrá-la, significa reconhecer que os temas de confronto são hoje outros, que muito do que se justificava em 74, 75 ou em 80 ou 90 não tem hoje o mesmo sentido ou importância. E, por outro lado, que o que então se dizia é insuficiente hoje, não chega às questões que são novas.
Ora, a existência de uma direita absolutamente pós-25 de Abril (é verdade que Portas, ou Monteiro, e mesmo Barroso, já não carregavam o peso da direita pré-revolucionária, mas aqui trata-se de uma geração e não de dirigentes) para mim significa que há finalmente uma liberdade na direita que nunca houve antes.
Claro que há várias direitas - como várias esquerdas - mas há um corpo doutrinário, ou ideológico, ou meramente emocional, de empatia, comum:
Defesa da liberdade individual, da propriedade, preferência pela cultura ocidental, identificação com o personalismo, e identificação com o património cristão – sem que com isso se confunda Igreja e Política, mas sem negar que o legado Cristão é um património de valores que se pode acolher. E no caso acolhe-se.
Acontece que perante esta variedade de direitas, há uma falta de representação ideológica e cultural desse espaço.
Por outro lado, desapareceu o espaço para a versão partido de direta de protesto, o que significa o fim da linha meramente nacionalista que o projecto de Monteiro no essencial representava.
Pelo menos por agora, parece assim ser. De resto, o facto de não haver saudades de Monteiro no CDS é significativo. Mais do que sinal de ofensa com o facto de o cavalheiro ter criado um partido só para ele, o que há – intuo – é a consciência de que o caminho mais responsável e menos marginal é mais de acordo com a identidade daquele espaço.
Sobra então a eventual necessidade de representação política de um leque amplo de valores, os tais, que das duas uma: ou é pragmaticamente representado pelo PSD, ou é defendido com força ideológica pelo CDS, mas isso implica um partido com uma forte marca ideológica, doutrinário, sem que isso signifique qualquer espécie de radicalismo, mas assumindo que significa uma linha política forte e clara, e nesse sentido de eventual ruptura.
E então sim, aqui entra o ponto crucial do combate cultural. Ao contrário de muitos, não confundo isso com uma tentativa de tomada de assalto das redacções ou da criação de um jornal oficial da direita. E nem é apenas por uma questão de desacordo ético ou de desagrado metodológico. É mesmo porque entendo que o problema é bem maior e a solução tem de o ser também.
A questão cultural, para mim, passa por reconhecer que se perdeu em grande parte o combate cultural, que a agenda política é essencialmente de esquerda, que os termos e condições em que se faz o debate são os da esquerda e que isso se explica porque a direita se deixou acantonar, provavelmente porque a direita mais moderada, ou simplesmente civilizada, como gosto de lhe chamar, ainda vive com algum complexo de esquerda.
Ou seja, o debate público é feito em cima da agenda e com base nos conceitos da esquerda. Só isso explica disparates tão intoleráveis como uma jornalista alfabetizada (Judite de Sousa) ter dito há semanas que o Papa era de esquerda e de direita. De direita quando não-sei-o-quê, e de esquerda quando defende os direitos humanos.
Para além de poder incomodar a constante ignorância, o facto é que a lamúria é pouco produtiva, pelo que a questão cultural exige uma atitude de combate, de resposta, de confronto.
Há, simplificando as coisas, duas direitas identificadas pela esquerda e que, de facto, na minha opinião não são por si suficientemente modernas. Mas são as direitas admitidas no debate pela esquerda.
Uma está pouco à vontade em democracia, é saudosista e nacionalista. E portanto nada liberal. É tão estatista como a esquerda (iliberal, como lhe chamou José Manuel Fernandes há dias no Público) e, nesse aspecto, de facto identifica-se bem com a maioria dos portugueses. Acontece que o reconhecimento da existência de uma nova geração no mercado eleitoral da direita implica reconhecer que já nem toda a direita cresceu a ler os manuais escolares do Estado Novo.
A outra direita fica-se pelos temas mais sociais, e deixa-se prender no debate do aborto, tendo dificuldade em ir mais longe. É a que tradicionalmente surge como Democrata-cristã, que é profundamente compatível com visões modernas – ou actuais, como gosto mais de dizer – mas que regularmente se deixa acantonar, se deixa ficar onde a esquerda a quer colocar.
Ora, há um espaço indispensável, que tem de incluir esta mais social, mas que tem de saber falar de economia, de liberdade individual, de cultura, de política internacional, que não partilhe um velho complexo católico contra Israel, que não tenha da América quase a mesma visão que Salazar tinha, e que reconheça que tem estado acantonada.
A ser assim, este espaço de direita precisa de assumir o combate cultural como uma coisa que vai para além de um jornal diário. Que o pode incluir, mas que precisa de dar espaço a quem pensa, a quem escreve, a quem estuda, e que tem de saber conviver com uma enorme diversidade e com ausência de lealdades e de identidades plenas. É mais importante haver quem fale num espaço cultural e ideológico, mesmo que não seja o seu fiel representante, do que ter apenas versões oficias e temer a diversidade.
Ou seja, o combate cultural implica disponibilidade para dar espaço e visibilidade a discursos variados e heterogéneos mas que no essencial assentam nos primados definidores: liberdade individual, propriedade, responsabilidade, personalismo.
E chega-se então à questão partidária. De resto, e isso não deixa de ser curioso, insisto, é à volta do congresso de um pequeno partido que se tem debatido o tema. Mais do que à volta do Congresso do PSD. Aí as coisas são quase consensuais: o PSD não tem dramas ideológicos – até porque resolveu isso reduzindo a componente ideológica ao mínimo indispensável. Diz que é Social-democrata, é visto como sendo de centro, acolhe os pragmáticos da Direita e recebe os votos dos oscilantes do centro.
Mas, então, faz sentido um partido de direita? Sabendo que o eleitorado desse espaço que não é meramente de protesto tende a votar PSD quando o candidato é razoável? Aliás, a resposta a dar implica ter consciência de que nestas eleições houve muitos eleitores do PSD que votaram CDS por acharem que Portas era mais credível que Santana, mas que agora devem regressar a casa. A menos que…
Mais. Importa ter consciência de que a tendência bipartidarizante é generalizada e até adequada a um mundo de poucas convicções.
A minha tese é que sim, faz sentido um partido de Direita. Desde que…
Isto é, tudo dito, só se for numa lógica de ser um partido com uma marca doutrinária e ideológica clara, e com um comportamento - entramos no lado prático da coisa - responsável, que inspire confiança. O que significa deixar de lado excitações e correr o risco de propor rupturas mas ao nível de sistema, ao nível de modelo, quer isto dizer, ser capaz de admitir discutir o imposto único, o cheque de ensino, o cheque saúde, uma CPLP politicamente activa. É a esse nível que se deve falar de rupturas, não ao nível do protesto.
Falo de um partido que reconheça o primado da Liberdade, as vantagens do mercado, que defenda a necessidade de rigor na imigração mas que o faça reconhecendo as enormes virtudes de receber imigrantes, que na questão Europeia tranquilamente defenda um modelo de integração com respeito pelos Estados, mas que o faça estando dentro, com os direitos de quem é membro pleno e não membro tolerado. Que seja um partido que não confunda as questões morais com as questões políticas – e isto não inclui o aborto, quem discute o aborto com base em termos morais cai no maior erro. O debate é sobre a vida de um terceiro, que nada tem de moral ou imoral, e sobretudo nada tem que ver com costumes -.
É neste sentido que falo de direita civilizada – só para chatear – ou de Direita moderna.
Neste contexto, o próximo congresso do CDS é um momento curioso. Tanto se pode tornar numa coisa obsoleta, numa ocupação de tempos livres para criativos da direita, como num imenso funeral para velhos conservadores e democrata cristãos.
Ou então assume-se um projecto a longo prazo, mas aí quem o liderar agora terá de ter consciência de que é um desenhador, eventualmente um arquitecto, mas muito provavelmente não estará lá para inaugurar a obra.
Mas isto, claro, acho eu. E, como se deverá ter percebido, um dos pressupostos de tudo isto é achar que tem de haver divergência e heterogeneidade.
A minha tese é esta, e não sendo uma moção, é longa para um post, mas cá vai:
Apesar de admitir que o CDS podia já não fazer sentido, a verdade é que o debate sobre o destino da direita ideológica se faz a partir do Congresso do CDS e não do Congresso do PSD, o que não deixa de ser curioso e de poder querer dizer que um partido à direita do PSD pode ter utilidade e sentido. E não apenas para o PSD ou para o PS, conforme é hábito alguns tácticos defenderem.
No entanto, acredito que não há, não deve haver, e espero bem que não haja a tentação de fazer uma qualquer refundação da direita. A Direita que temos, e que podemos ter, não precisa de se libertar de uma qualquer tralha passada, precisa sobretudo de integrar o que há de novo, e isso não é refundar, é aglomerar. E eventualmente repensar.
E, nesse contexto, faz sentido perceber que eleitoralmente e a nível de quadros há uma nova geração, amplamente entendida, que não tem memória sequer do PREC, quanto mais do 25 de Abril. Perceber isso, e integrá-la, significa reconhecer que os temas de confronto são hoje outros, que muito do que se justificava em 74, 75 ou em 80 ou 90 não tem hoje o mesmo sentido ou importância. E, por outro lado, que o que então se dizia é insuficiente hoje, não chega às questões que são novas.
Ora, a existência de uma direita absolutamente pós-25 de Abril (é verdade que Portas, ou Monteiro, e mesmo Barroso, já não carregavam o peso da direita pré-revolucionária, mas aqui trata-se de uma geração e não de dirigentes) para mim significa que há finalmente uma liberdade na direita que nunca houve antes.
Claro que há várias direitas - como várias esquerdas - mas há um corpo doutrinário, ou ideológico, ou meramente emocional, de empatia, comum:
Defesa da liberdade individual, da propriedade, preferência pela cultura ocidental, identificação com o personalismo, e identificação com o património cristão – sem que com isso se confunda Igreja e Política, mas sem negar que o legado Cristão é um património de valores que se pode acolher. E no caso acolhe-se.
Acontece que perante esta variedade de direitas, há uma falta de representação ideológica e cultural desse espaço.
Por outro lado, desapareceu o espaço para a versão partido de direta de protesto, o que significa o fim da linha meramente nacionalista que o projecto de Monteiro no essencial representava.
Pelo menos por agora, parece assim ser. De resto, o facto de não haver saudades de Monteiro no CDS é significativo. Mais do que sinal de ofensa com o facto de o cavalheiro ter criado um partido só para ele, o que há – intuo – é a consciência de que o caminho mais responsável e menos marginal é mais de acordo com a identidade daquele espaço.
Sobra então a eventual necessidade de representação política de um leque amplo de valores, os tais, que das duas uma: ou é pragmaticamente representado pelo PSD, ou é defendido com força ideológica pelo CDS, mas isso implica um partido com uma forte marca ideológica, doutrinário, sem que isso signifique qualquer espécie de radicalismo, mas assumindo que significa uma linha política forte e clara, e nesse sentido de eventual ruptura.
E então sim, aqui entra o ponto crucial do combate cultural. Ao contrário de muitos, não confundo isso com uma tentativa de tomada de assalto das redacções ou da criação de um jornal oficial da direita. E nem é apenas por uma questão de desacordo ético ou de desagrado metodológico. É mesmo porque entendo que o problema é bem maior e a solução tem de o ser também.
A questão cultural, para mim, passa por reconhecer que se perdeu em grande parte o combate cultural, que a agenda política é essencialmente de esquerda, que os termos e condições em que se faz o debate são os da esquerda e que isso se explica porque a direita se deixou acantonar, provavelmente porque a direita mais moderada, ou simplesmente civilizada, como gosto de lhe chamar, ainda vive com algum complexo de esquerda.
Ou seja, o debate público é feito em cima da agenda e com base nos conceitos da esquerda. Só isso explica disparates tão intoleráveis como uma jornalista alfabetizada (Judite de Sousa) ter dito há semanas que o Papa era de esquerda e de direita. De direita quando não-sei-o-quê, e de esquerda quando defende os direitos humanos.
Para além de poder incomodar a constante ignorância, o facto é que a lamúria é pouco produtiva, pelo que a questão cultural exige uma atitude de combate, de resposta, de confronto.
Há, simplificando as coisas, duas direitas identificadas pela esquerda e que, de facto, na minha opinião não são por si suficientemente modernas. Mas são as direitas admitidas no debate pela esquerda.
Uma está pouco à vontade em democracia, é saudosista e nacionalista. E portanto nada liberal. É tão estatista como a esquerda (iliberal, como lhe chamou José Manuel Fernandes há dias no Público) e, nesse aspecto, de facto identifica-se bem com a maioria dos portugueses. Acontece que o reconhecimento da existência de uma nova geração no mercado eleitoral da direita implica reconhecer que já nem toda a direita cresceu a ler os manuais escolares do Estado Novo.
A outra direita fica-se pelos temas mais sociais, e deixa-se prender no debate do aborto, tendo dificuldade em ir mais longe. É a que tradicionalmente surge como Democrata-cristã, que é profundamente compatível com visões modernas – ou actuais, como gosto mais de dizer – mas que regularmente se deixa acantonar, se deixa ficar onde a esquerda a quer colocar.
Ora, há um espaço indispensável, que tem de incluir esta mais social, mas que tem de saber falar de economia, de liberdade individual, de cultura, de política internacional, que não partilhe um velho complexo católico contra Israel, que não tenha da América quase a mesma visão que Salazar tinha, e que reconheça que tem estado acantonada.
A ser assim, este espaço de direita precisa de assumir o combate cultural como uma coisa que vai para além de um jornal diário. Que o pode incluir, mas que precisa de dar espaço a quem pensa, a quem escreve, a quem estuda, e que tem de saber conviver com uma enorme diversidade e com ausência de lealdades e de identidades plenas. É mais importante haver quem fale num espaço cultural e ideológico, mesmo que não seja o seu fiel representante, do que ter apenas versões oficias e temer a diversidade.
Ou seja, o combate cultural implica disponibilidade para dar espaço e visibilidade a discursos variados e heterogéneos mas que no essencial assentam nos primados definidores: liberdade individual, propriedade, responsabilidade, personalismo.
E chega-se então à questão partidária. De resto, e isso não deixa de ser curioso, insisto, é à volta do congresso de um pequeno partido que se tem debatido o tema. Mais do que à volta do Congresso do PSD. Aí as coisas são quase consensuais: o PSD não tem dramas ideológicos – até porque resolveu isso reduzindo a componente ideológica ao mínimo indispensável. Diz que é Social-democrata, é visto como sendo de centro, acolhe os pragmáticos da Direita e recebe os votos dos oscilantes do centro.
Mas, então, faz sentido um partido de direita? Sabendo que o eleitorado desse espaço que não é meramente de protesto tende a votar PSD quando o candidato é razoável? Aliás, a resposta a dar implica ter consciência de que nestas eleições houve muitos eleitores do PSD que votaram CDS por acharem que Portas era mais credível que Santana, mas que agora devem regressar a casa. A menos que…
Mais. Importa ter consciência de que a tendência bipartidarizante é generalizada e até adequada a um mundo de poucas convicções.
A minha tese é que sim, faz sentido um partido de Direita. Desde que…
Isto é, tudo dito, só se for numa lógica de ser um partido com uma marca doutrinária e ideológica clara, e com um comportamento - entramos no lado prático da coisa - responsável, que inspire confiança. O que significa deixar de lado excitações e correr o risco de propor rupturas mas ao nível de sistema, ao nível de modelo, quer isto dizer, ser capaz de admitir discutir o imposto único, o cheque de ensino, o cheque saúde, uma CPLP politicamente activa. É a esse nível que se deve falar de rupturas, não ao nível do protesto.
Falo de um partido que reconheça o primado da Liberdade, as vantagens do mercado, que defenda a necessidade de rigor na imigração mas que o faça reconhecendo as enormes virtudes de receber imigrantes, que na questão Europeia tranquilamente defenda um modelo de integração com respeito pelos Estados, mas que o faça estando dentro, com os direitos de quem é membro pleno e não membro tolerado. Que seja um partido que não confunda as questões morais com as questões políticas – e isto não inclui o aborto, quem discute o aborto com base em termos morais cai no maior erro. O debate é sobre a vida de um terceiro, que nada tem de moral ou imoral, e sobretudo nada tem que ver com costumes -.
É neste sentido que falo de direita civilizada – só para chatear – ou de Direita moderna.
Neste contexto, o próximo congresso do CDS é um momento curioso. Tanto se pode tornar numa coisa obsoleta, numa ocupação de tempos livres para criativos da direita, como num imenso funeral para velhos conservadores e democrata cristãos.
Ou então assume-se um projecto a longo prazo, mas aí quem o liderar agora terá de ter consciência de que é um desenhador, eventualmente um arquitecto, mas muito provavelmente não estará lá para inaugurar a obra.
Mas isto, claro, acho eu. E, como se deverá ter percebido, um dos pressupostos de tudo isto é achar que tem de haver divergência e heterogeneidade.
Sunday, April 03, 2005
A morte de João Paulo II
O que mais me impressiona na morte de João Paulo II é que marca, definitivamente, a nossa entrada num mundo sem figuras de referência. Vivemos um tempo de gente humilde de ideias e de obra, e a ausência de João Paulo II mostra-o com forte evidência.
A vida de João Paulo II
De tudo o que se pode dizer sobre o último Papa, acho que há uma forma de resumir a sua obra: Foi um exemplo de humanidade e um exemplo para a Humanidade. O que é, provavelmente, o melhor que se pode ser numa vida.
O exemplo para a Humanidade foi a sua dedicação permanente à paz, aos que sofrem, à liberdade e à responsabilidade. Foi um Católico pleno.
O exemplo de humanidade foi a sua compreensão da real extensão do mundo e dos seus males, a sua capacidade de lhes procurar chegar, a sua compreensão da proximidade na distância religiosa, e a sua capacidade de nos fazer ver o sofrimento num tempo em que escondemos a morte e a doença.
O exemplo para a Humanidade foi a sua dedicação permanente à paz, aos que sofrem, à liberdade e à responsabilidade. Foi um Católico pleno.
O exemplo de humanidade foi a sua compreensão da real extensão do mundo e dos seus males, a sua capacidade de lhes procurar chegar, a sua compreensão da proximidade na distância religiosa, e a sua capacidade de nos fazer ver o sofrimento num tempo em que escondemos a morte e a doença.