Tuesday, May 31, 2005
O que foi que aconteceu em França? C'est la économie, stupide. O pior é que a resposta não costuma ser pró-economia. É esse o problema.
Porque sim?
o Paulo, o Eduardo, o Zé, o Luciano, para não falar noutros blogs, discutem o resultado do referendo e pede-se mesmo argumentos sobre os malefícios do não. Cá vai o meu contributo.
Enquanto o não holandês é um não que reclama dos excessos da União Europeia - entre outras coisas, claro, a mescla é sempre muita mas o que conta é o que determina este sentido de voto - o não francês foi um não contra a perspectiva liberal. Basta pensar que o Presidente Chirac culpa o "ultra-liberalismo" de Barroso por muita da má imagem da UE em França. Quando se vota contra um Tratado porque a Europa é ultra-liberal torna-se simples perceber porque razão não devemos comemorar.
Enquanto o não holandês é um não que reclama dos excessos da União Europeia - entre outras coisas, claro, a mescla é sempre muita mas o que conta é o que determina este sentido de voto - o não francês foi um não contra a perspectiva liberal. Basta pensar que o Presidente Chirac culpa o "ultra-liberalismo" de Barroso por muita da má imagem da UE em França. Quando se vota contra um Tratado porque a Europa é ultra-liberal torna-se simples perceber porque razão não devemos comemorar.
Monday, May 30, 2005
Não gostei
Aos tradicionais não soberanista de direita e não esquerdista anti qualquer forma de capitalismo, desta vez em França juntou-se o não anti-liberal, anti-mercado, anti-alargamento, anti-concorrência, anti-directiva Bolkstein, anti o melhor que a Europa pode ter - com este Tratado ou com outra coisa qualquer. É por isso que este não Francês é bem pior do que alguma direita pensa.
O buraco ideológico
Verificando-se, como é hábito, que o Estado tende a gastar mais do que tem, conclui-se que a solução é aumentar a receita pública. Não haverá um único espírito não iliberal nesta Pátria?
Tuesday, May 24, 2005
O festival da canção existe?
Ora aqui está uma coisa que o Adolfo deve achar interessante, se mais ninguém achar.
No dia a seguir ao festival da canção perguntei - sim, de propósito, para ver como era - à menina da recepção de um hotel decente em Dublin quem tinha ganho. "Não sei, não vi, este ano não vimos". Este ano os irlandeses não viram o festival da canção, porque ficaram para trás na meia-final, ou lá o que foi - não domino tema - mas fartaram-se de escrever nos jornais sobre o assunto. Mesmo jornais sérios, com dimensões broadsheet fizeram editoriais e publicaram artigos e mesmo um estudo que afirma haver traficância de votos entre certos países (ao que parece Portugal habitualmente faz troca de votos com outros países.
Confesso que o tema não me excita, mas a excitação e o incómodo que causou aos irlandeses fascina-me e faz ainda gostar mais deles. Um país que enriqueceu mas continua a achar importante o seu resultado em máteria de música, mesmo quando é má música, só pode ser um páis simpático. E é, e é.
No dia a seguir ao festival da canção perguntei - sim, de propósito, para ver como era - à menina da recepção de um hotel decente em Dublin quem tinha ganho. "Não sei, não vi, este ano não vimos". Este ano os irlandeses não viram o festival da canção, porque ficaram para trás na meia-final, ou lá o que foi - não domino tema - mas fartaram-se de escrever nos jornais sobre o assunto. Mesmo jornais sérios, com dimensões broadsheet fizeram editoriais e publicaram artigos e mesmo um estudo que afirma haver traficância de votos entre certos países (ao que parece Portugal habitualmente faz troca de votos com outros países.
Confesso que o tema não me excita, mas a excitação e o incómodo que causou aos irlandeses fascina-me e faz ainda gostar mais deles. Um país que enriqueceu mas continua a achar importante o seu resultado em máteria de música, mesmo quando é má música, só pode ser um páis simpático. E é, e é.
O Mundo, afinal, não está assim tão menos perigoso
Segundo os jornais, um dos temas mais actuais em Inglaterra, e que ameaça exportar-se, é o que eles chamam de "happy slapping" e que não consigo traduzir melhor do que chamar-lhe "porrada divertida".
Seja como for, o nome é o menos importante. O que interessa é a moda. Resumindo, de há uns tempos para cá bandos de jovens divertem-se a escolher vítimas ao acaso que enchem de pancada enquanto vão, felizes, gravando a cena em telemóveis. Mais do que violência gratuita, é verdadeiro prazer, é o gozo da gratuitidade da violência. E está a tornar-se moda (pelo menos já terão havido alguns casos, o suficiente para os jornais começarem a falar do assunto).
Pensando melhor, o mundo não está nem mais nem menos perigoso. Como sempre, tem gente, e gente é um perigo.
Seja como for, o nome é o menos importante. O que interessa é a moda. Resumindo, de há uns tempos para cá bandos de jovens divertem-se a escolher vítimas ao acaso que enchem de pancada enquanto vão, felizes, gravando a cena em telemóveis. Mais do que violência gratuita, é verdadeiro prazer, é o gozo da gratuitidade da violência. E está a tornar-se moda (pelo menos já terão havido alguns casos, o suficiente para os jornais começarem a falar do assunto).
Pensando melhor, o mundo não está nem mais nem menos perigoso. Como sempre, tem gente, e gente é um perigo.
O Mundo está menos perigoso.
Ao contrário do que parece ser opinião generalizada, o mundo está menos perigoso hoje do que há 14 anos, em 2001. Pode não parecer, podemos não o perceber pelas notícias, mas a verdade é essa. Segundo um estudo de dois académicos americanos (pois aquilo não é só cowboys) Monty Marshall e Ted Robert Gurr, comentado num artigo numa das melhores revistas de esquerda da América (The New Republic - tem edição on line mas é pagantes: www.tnr.com), há hoje cerca de metade dos conflitos que havia em 1991 (eram 51 então) o ano que começou a diminuição do número de guerras à volta do mundo.
Os mesmos académicos dizem que este declínio da guerra coincidiu com o crescimento de factores que é sabido reduzem os conflitos armados: prosperidade económica, eleições livres, governos estáveis, melhores comunicações, mais instituições de "manutenção da paz", e maior actuação da comunidade internacional.
E, acrescente-se o óbvio, o fim da guerra fria.
Depois do tempo de Churchill, houve um tempo de Políticos como Reagan, Tatcher, Kholl, Gorbatchov que mudou o mundo. Aos deste tempo imputaremos o quê?
Os mesmos académicos dizem que este declínio da guerra coincidiu com o crescimento de factores que é sabido reduzem os conflitos armados: prosperidade económica, eleições livres, governos estáveis, melhores comunicações, mais instituições de "manutenção da paz", e maior actuação da comunidade internacional.
E, acrescente-se o óbvio, o fim da guerra fria.
Depois do tempo de Churchill, houve um tempo de Políticos como Reagan, Tatcher, Kholl, Gorbatchov que mudou o mundo. Aos deste tempo imputaremos o quê?
Regressos a Amsterdam
Cada vez que lá vou prometo reencontrar este texto. Finalmente, sem lá ter ido nos últimos tempos (semanas) encontrei o texto. Nada de especial.
Loura, morena, ruiva, encaracolada, vestida de preto, de laranja, com as estrelas todas da bandeira americana.
Sorriso asiático, pele baça, cinzenta, escura, pálida, sardenta. Olhos azuis, verdes, inventados, escondidos atrás de óculos escuros, espelhados. Uma carapinha loura e alta, outra ruiva, baixa, com um braço peludo em volta. Pernas, muitas, com força, a direito, sobre as águas verde-macilentas. Um cabelo roxo. Ainda há cabelos roxos aqui. Pensei que já não havia cabelos roxos aqui. Hoje há, amanhã logo se vê. Vê-se tudo. Sexo, Deus (menos), XXX, quanto mais, maiores. Compra-se, vende-se, empresta-se, usa-se mas só um bocado, só por um bocado.
Fatos, gravatas, cuecas e meias de ligas. Também há montras com roupa litoral. O homem posto à prova. Prova o que quiser. Um bocado de história, dois charros, sexo a três, quatro florins por uma cerveja. Ou duas, em happy hour. Happy days. Be gay if you dare. Beware.
Dois loucos. Um mija no rio. O outro não. Uma punk louro-violeta.
Tchek, tchek, tchek. Duas rodas empurradas pelas pernas. Canal, rua, canal, rua, carnal, parque, parque, parque.
Uma esquina silenciosa. Um café. Estranhos à volta da mesma mesa. Não há lugar? Cabem todos.
Pasta, shiskbab, shoarma, stake house, hot-dog, panquecas, cogumelos alucinogénicos.
Salamalecum. Shalom. Margarita, vene qui. Man this is great. Zwei Bier bitte. Nasdrovia. Olha os barquinhos no canal, que lindos.
Prédios escuros, gente às cores, árvores altas, flores à mostra, erva fresca, raparigas verdes, mulheres maduras à janela prontas a escolher.
Olhos nos olhos. Às vezes sim. Às vezes não. Braços, pernas, mãos, festas. Noite fora, madrugada longa e a ressaca servida com champagne num barco a motor pelos canais de Amsterdam.
Amsterdam, 13 de Outubro de 2001
Loura, morena, ruiva, encaracolada, vestida de preto, de laranja, com as estrelas todas da bandeira americana.
Sorriso asiático, pele baça, cinzenta, escura, pálida, sardenta. Olhos azuis, verdes, inventados, escondidos atrás de óculos escuros, espelhados. Uma carapinha loura e alta, outra ruiva, baixa, com um braço peludo em volta. Pernas, muitas, com força, a direito, sobre as águas verde-macilentas. Um cabelo roxo. Ainda há cabelos roxos aqui. Pensei que já não havia cabelos roxos aqui. Hoje há, amanhã logo se vê. Vê-se tudo. Sexo, Deus (menos), XXX, quanto mais, maiores. Compra-se, vende-se, empresta-se, usa-se mas só um bocado, só por um bocado.
Fatos, gravatas, cuecas e meias de ligas. Também há montras com roupa litoral. O homem posto à prova. Prova o que quiser. Um bocado de história, dois charros, sexo a três, quatro florins por uma cerveja. Ou duas, em happy hour. Happy days. Be gay if you dare. Beware.
Dois loucos. Um mija no rio. O outro não. Uma punk louro-violeta.
Tchek, tchek, tchek. Duas rodas empurradas pelas pernas. Canal, rua, canal, rua, carnal, parque, parque, parque.
Uma esquina silenciosa. Um café. Estranhos à volta da mesma mesa. Não há lugar? Cabem todos.
Pasta, shiskbab, shoarma, stake house, hot-dog, panquecas, cogumelos alucinogénicos.
Salamalecum. Shalom. Margarita, vene qui. Man this is great. Zwei Bier bitte. Nasdrovia. Olha os barquinhos no canal, que lindos.
Prédios escuros, gente às cores, árvores altas, flores à mostra, erva fresca, raparigas verdes, mulheres maduras à janela prontas a escolher.
Olhos nos olhos. Às vezes sim. Às vezes não. Braços, pernas, mãos, festas. Noite fora, madrugada longa e a ressaca servida com champagne num barco a motor pelos canais de Amsterdam.
Amsterdam, 13 de Outubro de 2001
Saturday, May 14, 2005
O sexo e a idade
Anda aí uma discussão sobre o artigo do Código Penal que pune a homossexualidade de adultos com menores de 16 anos de forma mais gravosa do que as relações entre pessoas de sexo diferente. Até podia confessar que já fiz parte dos que compreendiam essa distinção, ou agora explicar aos mais "conservadores" que a distinção presume uma lógica de permissividade relativamente ao abuso sobre raparigas pouco razoável, ou que proíbe uma escolha livre que o Estado não tem de proibir, mas acho que já ouvi o melhor argumento de todos para defender a igualdade legal: " e uma rapariga homossexual violada por um homem"? Pronto, sem mais argumentos.
Blogs por aí
Tem-me faltado o tempo para linkar amigos como estes post-good-byes, para dar os imperiais parabéns, e para notar que tanta gente, alguma bombástica, outra aguada, fez dois anos por agora. Parabéns e essas coisas todas, generalizadas.
Mais a sério. Dois anos que fizeram uma grande diferença.
Mais a sério. Dois anos que fizeram uma grande diferença.
Posts que ficam por fazer
Se não fosse embora amanhã, se não tivesse malas para fazer, coisas para escrever, fazia uns posts sobre umas coisas. Sobre:
O referendo francês, onde ao não soberanista, tradicional, se soma o não egoísta, o não profundamente francês, o não que quer os previlégios da Europa "social" sem compreender que a economia tem de produzir resultados. O não da velha Europa.
As comemorações dos sessenta anos do fim da Segunda Guerra e o discurso de Bush em Riga, o discurso onde o presidente dos Estados Unidos mostrou que percebeu bem a dimensão da memória da Europa a que chamamos de Leste.
As demasiado discretas comemorações do primeiro ano daquilo a que nós chamamos alargamento e eles chamam reunificação da Europa.
Mas, pronto, as malas, lá terá de ser.
O referendo francês, onde ao não soberanista, tradicional, se soma o não egoísta, o não profundamente francês, o não que quer os previlégios da Europa "social" sem compreender que a economia tem de produzir resultados. O não da velha Europa.
As comemorações dos sessenta anos do fim da Segunda Guerra e o discurso de Bush em Riga, o discurso onde o presidente dos Estados Unidos mostrou que percebeu bem a dimensão da memória da Europa a que chamamos de Leste.
As demasiado discretas comemorações do primeiro ano daquilo a que nós chamamos alargamento e eles chamam reunificação da Europa.
Mas, pronto, as malas, lá terá de ser.
Cá fora
Irlanda amanhã. Regressar a Dublin, rever as ilhas Aran, passear pelo campo e ter inveja do que eles foram capazes de fazer em tão poucos anos. Isso e poesia. Irlandesa, claro. E os poemas irlandeses do Francisco também.
Wednesday, May 04, 2005
Roma
Este fim de semana longo, a minha Roma de Trastevere, das ruas, da cor das casas, do trânsito, do Nanni Moretti, da gente, muito da gente, da pintura. E talvez de uma janela que nos exige que sejamos mais do que simplesmente humanos.
Blair
Blair, por causa do Iraque, por não ser "real labour", pela economia, pela Aliança Atlântica, pela Europa. Apesar do crescimento da despesa da pública, apesar da sucessão Brown, apesar do plástico inicial.
Conservative não, pela falta de ideias, pela ideia central da imigração, por causa do Iraque.
Lib-Dem nunca, não se sabe o que são. Mas não são aquilo que parecem.
Conservative não, pela falta de ideias, pela ideia central da imigração, por causa do Iraque.
Lib-Dem nunca, não se sabe o que são. Mas não são aquilo que parecem.