Monday, June 26, 2006

Morreu um Jornalista II

Leio mais sobre a morte de Martin Adler e percebo que não morreu no meio de uma manifestação, apanhado por um tiro. Foi assassinado, morto por uma bala disparada de trás. Mais terrível, claro, mas não menos previsível.

Há uma coisa que reparo agora que não disse. Nos telefonemas, nos e-mails, em todas as reportagens que o Martin nos enviava, nunca se sentia uma ponta que fosse de orgulho, de presunção. Percebia-se bem que considerava as histórias importantes, o contador não.

Morreu um jornalista

Martin Adler morreu sexta-feira, 23 de Junho, em Mogadíscio, leio hoje Diário Digital, que dá conta da morte de um jornalista sueco. Algumas das melhores reportagens publicadas em Portugal, na Grande Reportagem mas não só, foram escritas pelo Martin. Longe dos roteiros das notícias da moda, o Martin Adler parecia ser movido pelo interesse e pela coragem - coragem física mesmo. Contava histórias de guerras esquecidas, de conflitos que não faziam as primeiras páginas dos jornais, assim como fazia reportagens sobre a droga no Casal Ventoso. Era jornalista, muito jornalista. Talvez fosse inevitável morrer assim, em reportagem, na Somália.
Morreu um sueco que fazia jornalismo em todo o Mundo. Incluindo Portugal.

Wednesday, June 21, 2006

Um dilema chinês. Isso e outras coisas.

Se deixamos entrar livremente os seus produtos, as nossas produções de mão-de-obra intensiva (e cujo transporte de longa distância tenha custos toleráveis) encerram. Se impusermos quotas, o que é feito na China sê-lo-á na Tailândia, Índia ou outro lugar qualquer (o que poderia ter o efeito positivo de estimular vários pólos - e poderes - asiáticos), ainda que o efeito interno seja exactamente o mesmo. Se exigimos o cumprimento de regras sociais, económicas e ambientais mínimas, importaremos inflação. Seja qual for o caminho, o efeito será sempre em larga escala.

E um detalhe. Num debate no Parlamento Europeu sobre as relações com a China os suecos retomam o argumento já usado em diferentes ocasiões. Há vinte e cinco anos os portugueses e os espanhóis eram os "chineses" deles. Ponderaram impor quotas e fechar mercados, optaram por deixar o mercado funcionar e especializar-se no que não era inevitavelmente deslocalizável: design e marca. As fábricas que tinham de fechar já fecharam, a eles a China não mete medo.

Tuesday, June 20, 2006

Teremos Homem?

O principal resultado da cimeira do fim-de-semana passado em Bruxelas é que passa a haver a intenção de apresentar resultados. Na linguagem local quer isto dizer que se vai tentar demonstrar aos cidadãos que a União Europeia tem utilidade, por utilidade entendendo-se, hoje pelo menos, crescimento económico. É aqui que pode começar alguma coisa de interessante para Barroso. Depois de passar um ano e tal arrastada entre o pecado original (caso Botiglione) e os dois "não", a eleição de Merkel foi a única boa notícia que esta Comissão teve. Agora, sem o tema do Tratado Constitucional tão em cima da cabeça, veremos do que Barroso é capaz. Para já, a três anos e meio do prazo da Agenda de Lisboa, morta a Directiva dos Serviços e com os condicionalismos internacionais que se conhecem, as expectativas não podem ser muitas. O perigo é, portanto, que à beira das próximas eleições europeias os europeus não estejam convencidos das enormes virtudes da União.

Saturday, June 17, 2006

Uff, finalmente o bom senso

Finalmente os dirigentes (líderes parece-me um exagero) europeus decidiram pôr fim ao espetáculo repetitivo de ao fim de cada cimeira se verificar que ninguém sabia o que fazer com o maldito Tratado Constitucional. Com a imagem da "europa" institucional tão desgastada, a confissão cíclica da impotência e desorientação eram, de facto, dispensáveis e sobretudo prejudiciais. Lá para 2008 se verá o que fazer. Entretanto podiam ter umas ideias sobre coisas importantes: economia. É que as razões pelas quais nasceu a "Europa" - como costuma fazer o VPV - já não importam. Não é de garantir a paz que necessitamos, é de assegurar a prosperidade económica. E não é com longos articulados sobre direitos dos cidadãos que vamos lá.

Pequeno detalhe, na mesma semana o Parlamento Europeu aprovou uma Resolução onde se fala exaustivamente do Tratado Constitucional e dos seus méritos e, implicitamente, da sua imperiosa ressureição. Ah!

Wednesday, June 14, 2006

Já que aqui estou de novo

Agora que voltei, posso dar os parabéns ao Francisco pelo Grande Prémio de Romance e Novela 2006 para o Longe de Manaus. Não li o livro, mas por mim deviam dar prémios ao Francisco pelo menos uma vez por ano. Mesmo quando ele andasse distraído.

A diferença que os diminuitivos fazem

Ontem entrou-me uma joaninha pelo quarto.
Ontem entrou-me uma Joana pelo quarto.

Tuesday, June 13, 2006

Era uma vez um homem que achava suspeito a CIA ir ao Afeganistão

Segundo o Diário Digital, Cláudio Fava, o homem que está a fazer o relatório do Parlamento Europeu sobre os supostos raptos da CIA, declarou hoje, em Estrasburgo, que "os países de origem e destino de muitos dos 1.080 voos que integram a lista não são destinos propriamente «turísticos»".
Eu não defendo que a CIA possa raptar gente, na Europa ou fora dela, nem quero que o assunto seja ignorado, mas tenho a maior das desconfianças quanto às conclusões a que possa chegar alguém que parte de tão elaborada premissa. Sim, porque isto da CIA voar para Cabul, Guantanamo ou Bagdad é muito suspeito. Ou vão lá raptar gente ou então não sei.

Monday, June 12, 2006

Frouxos

O que mais me impressionou ontem, em Colónia, não foi a selecção - pouco entusiasmante e entusiasmada - mas sim a claque. Nas ruas beberam cerveja com convicção e gritaram Portugal allez com paixão, como se por uma vez fosse um orgulho gritar o nome do País. Há qualquer coisa de catarse nisto. Mas no estádio não foi assim. No nosso caso é a selecção de que puxa pela claque, quando faz uma jogada mais inspirada, em vez de ser a claque a puxar pela selecção. No lugar onde estava, alguém que se levantava a tentar lançar um coro de apoio era olhado com suspeita, se não mesmo incómodo. Não temos garra.